sexta-feira, 27 de outubro de 2017

OLHAR AS CAPAS


Aquário e Sagitário

Agustina Bessa-Luís
Capa: Francisco Previdência
Colecção Brevíssima nº 2
Contexto Editora, Lisboa s/d

Ainda hoje pasmo e digo: “Para o que me deu!”
Mas, escrever uma novela policial nos anos 50 pareceu-me, penso eu, uma forma de homenagem aos autores que me consolaram duma vida de mulherzinha, agradável sim, mas sem os recursos da invenção que resulta do mundo exterior, o perigo, a aventura da jungle humana ou, simplesmente, o cinema de bairro.
Santa Teresa teria escrito livros de cavalaria, se fosse homem. Eu, quando li Lovcraft, reconciliei-me com a vocação precoce dos mistérios terribilíssimos em que mergulhava, antes de saber que era escritora também.
Perdi-me de admiração por Edgar Poe e de amor incompreendido por Sherlock Holmes, uma e mesma pessoa.
Neste livro, com o seu aquário gigante e um cinismo lírico, passa a sombra de Orson Welles. Também ele amou os mistérios, as situações bizarras, o mundo dos ricos e as suas ideias sérias sobre tudo o que os conserve faraonicamente nas suas criptas.
Este pequeno volume, prenúncio duma neurastenia de escritor entre o desespero e o pressentimento do sucesso, é como uma dentada no mundo das letras. Tem um sabor profético doutro sal e doutros sabores. O que viria a seguir.

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