Aquário e Sagitário
Agustina
Bessa-Luís
Capa: Francisco
Previdência
Colecção
Brevíssima nº 2
Contexto
Editora, Lisboa s/d
Ainda hoje pasmo e digo: “Para o que me deu!”
Mas, escrever uma novela policial nos anos 50
pareceu-me, penso eu, uma forma de homenagem aos autores que me consolaram duma
vida de mulherzinha, agradável sim, mas sem os recursos da invenção que resulta
do mundo exterior, o perigo, a aventura da jungle humana ou, simplesmente, o
cinema de bairro.
Santa Teresa teria escrito livros de cavalaria, se
fosse homem. Eu, quando li Lovcraft, reconciliei-me com a vocação precoce dos mistérios
terribilíssimos em que mergulhava, antes de saber que era escritora também.
Perdi-me de admiração por Edgar Poe e de amor
incompreendido por Sherlock Holmes, uma e mesma pessoa.
Neste livro, com o seu aquário gigante e um cinismo
lírico, passa a sombra de Orson Welles. Também ele amou os mistérios, as
situações bizarras, o mundo dos ricos e as suas ideias sérias sobre tudo o que
os conserve faraonicamente nas suas criptas.
Este pequeno volume, prenúncio duma neurastenia de
escritor entre o desespero e o pressentimento do sucesso, é como uma dentada no
mundo das letras. Tem um sabor profético doutro sal e doutros sabores. O que
viria a seguir.
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