Agustina Bessa-Luís, retida em casa, há longo tempo, por
doença irreversível,faz hoje 95 anos.
A jornalista Lillian Ross, citada por António Mega
Ferreira no JL, escreveu:
«Nunca se deve
escrever sobre alguém de quem não se gosta.»
Nos antípodas das minhas ideias, nunca lhe percorri os romances.
Dizem-me que faço mal.
A ver vamos, como diria o cego.
No boletim de voto nunca coloquei a cruzinha no mesmo
quadrado onde Agustina colocou o seu, mas terei que aceitar que escreve bem.
As ideias é que são o busílis da questão.
Agustina Bessa Luís no seu Caderno de Significados:
«Houve gente bronca que me relacionou, a torto e a
direito, com a ditadura. Talvez por eu não gostar de manobras políticas e ter
demasiado talento, um desperdício numa mulher, como ainda hoje se pensa.»
A Babel, editora que pertence ao ex-bancário Paulo
Teixeira Pinto e Álvaro Sobrinho, um obscuro empresário de estranhos negócios, retirou
os livros da escritora das livrarias e disse que não podia continuar a pagar
tanto a uma escritora que vende tão pouco.
Lamentável!
Felizmente que Francisco Vale, da Relógio d’Água, chegou
a acordo com a filha de Agustina e tomou conta da edição dos seus livros.
Enquanto crítico da Seara Nova, José Saramago
debruçou-se duas vezes sobre livros de Agustina Bessa Luís: As
Relações Humanas e Homens e Mulheres.
Numa chamou “génio” a Agustina, noutra
disse que Agustina “corre o risco muito sério de adormecer ao som da
sua própria música”
Quem não achou piada alguma à história foi José Gomes
Ferreira, possivelmente, por entender que José Saramago seria a última pessoa
no mundo a chamar génio a Agustina Bessa-Luís.
A 2 de Janeiro de 1968 escreve José Gomes Ferreira no 4º
volume dos seus Dias Comuns:
«Quase todos os críticos têm chamado génio a Agustina
Bessa Luís (verdade seja que alguns depois se arrependem; Gaspar Simões, Óscar
Lopes, José Régio, sei lá quantos).
Agora, chegou a vez ao Saramago que, no último número
da “Seara Nova”, não resistiu a proclamar: “como é possível não reconhecer e
declarar que se há em Portugal um escritor onde habite o génio (vã esta
palavra, ainda que perigosa e equívoca) esse escritor é Agustina Bessa Luís?»
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