domingo, 15 de outubro de 2017

NOS 95 ANOS DE AGUSTINA


Agustina Bessa-Luís, retida em casa, há longo tempo, por doença irreversível,faz hoje 95 anos.

A jornalista Lillian Ross, citada por António Mega Ferreira no JL, escreveu:

«Nunca se deve escrever sobre alguém de quem não se gosta.»

Nos antípodas das minhas ideias, nunca lhe percorri os romances.

Dizem-me que faço mal.

A ver vamos, como diria o cego.

No boletim de voto nunca coloquei a cruzinha no mesmo quadrado onde Agustina colocou o seu, mas terei que aceitar que escreve bem.

As ideias é que são o busílis da questão.

Agustina Bessa Luís no seu Caderno de Significados:

«Houve gente bronca que me relacionou, a torto e a direito, com a ditadura. Talvez por eu não gostar de manobras políticas e ter demasiado talento, um desperdício numa mulher, como ainda hoje se pensa.»

A Babel, editora que pertence ao ex-bancário Paulo Teixeira Pinto e Álvaro Sobrinho, um obscuro empresário de estranhos negócios, retirou os livros da escritora das livrarias e disse que não podia continuar a pagar tanto a uma escritora que vende tão pouco.

Lamentável!

Felizmente que Francisco Vale, da Relógio d’Água, chegou a acordo com a filha de Agustina e tomou conta da edição dos seus livros.

Enquanto crítico da Seara Nova, José Saramago debruçou-se duas vezes sobre livros de Agustina Bessa Luís:  As Relações Humanas e  Homens e Mulheres. 
Numa chamou “génio” a Agustina, noutra disse que Agustina “corre o risco muito sério de adormecer ao som da sua própria música”

Quem não achou piada alguma à história foi José Gomes Ferreira, possivelmente, por entender que José Saramago seria a última pessoa no mundo a chamar génio a Agustina Bessa-Luís. 

A 2 de Janeiro de 1968 escreve José Gomes Ferreira no 4º volume dos seus Dias Comuns:

«Quase todos os críticos têm chamado génio a Agustina Bessa Luís (verdade seja que alguns depois se arrependem; Gaspar Simões, Óscar Lopes, José Régio, sei lá quantos).
Agora, chegou a vez ao Saramago que, no último número da “Seara Nova”, não resistiu a proclamar: “como é possível não reconhecer e declarar que se há em Portugal um escritor onde habite o génio (vã esta palavra, ainda que perigosa e equívoca) esse escritor é Agustina Bessa Luís?»

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