Férias de Natal
W. Somerset Maugham
Tradução: Leonel Vallandro
Capa: Bernardo Marques
Colecção Miniatura nº
11
Livros do Brasil, Lisboa s/d
Charley hesitou.
Não tinha sentimentos religiosos definidos. Fora educado na crença de Deus –
mas ao mesmo tempo ensinavam-lhe a não pensar nele. Isso seria… bom, não seria
precisamente má educação, mas um tanto pedantesco. Era-lhe difícil dar voz aos
seus pensamentos, mas encontrava-se numa situação em que a linguagem mais
mística chegava a parecer quase natural.
- O seu marido
cometeu um crime e foi castigado. Isso parece-me justo. Mas você pode julgar
que um… Deus misericordioso lhe exija expiação do mal feito por outra pessoa.
- Deus? Que tem
Deus a ver com isto? Supões que eu possa ver a miséria em que vive a grande
maioria da Humanidade e continuar a acreditar em deus? Supões que eu creia em
Deus, que deixou os revolucionários matarem o meu pobre pai, um homem bom e
simples? Sabe o que penso? Pois penso que deus está morto há milhões e milhões
de anos. Penso que, depois de apanhar o Infinito e pôr em movimento o processo
que resultou na criação do Universo, ele morreu, e que, pelos séculos fora, os
homens têm buscado e adorado um ser que deixou de existir no próprio acto de
lhes tornar possível a existência.
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