sábado, 28 de outubro de 2017

É SEMPRE DIFÍCIL ESCREVER TUDO O QUE SE QUER DIZER


Jorge de Sena ainda não responde à carta em que Sophia conta as peripécias do que aconteceu, em Florença, no Congresso da Comunidade Europeia de Escritores (Março de 1962) e em fins de Maio desse ano, Sophia escreve uma carta a Jorge de Sena, essencialmente para lhe dar os parabéns pelo nascimento da filha Maria José e a promessa que depois lhe escreverá uma carta mais comprida - «mas é sempre difícil escrever tudo o que se quer dizer»:

Caríssimo Jorge

A si e à Mécia mil parabéns pelo nascimento da Maria José.
Nós graças a Deus estamos bem, mas agora, no meio dos acontecimentos que se sucedem quanta falta você aqui faz!
Recebi Reino da Estupidez e A Noite que fora de Natal. Gostei com entusiasmo de
A Noite que fora de Natal. É o seu melhor conto: parece descrever uma paragem do tempo, com os seus silêncios e vazios. É extraordinária atmosfera tensa nua e trágica, cheia de «presença». E também a maneira de dizer, mais simplificada e desnudada do que nos seus outros contos e mais directa, é óptima.
O Reino da estupidez de tão magnífico título, apesar de todas as páginas óptimas que tem, parece-me demasiado cheio de questões que afinal talvez não mereçam ser postas na sua obra. Valerá a pena você gastar tanta inteligência para explicar aos parvos que são parvos?


Legenda: capa de A Noite Que Fora de Natal, Estúdios Cor), encontrada em  d’outro tempo

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