quarta-feira, 8 de julho de 2020

MUSIC IN THE MOUNTAINS


“My home is across the Blue Ridge Mountais,
And I never expect to see you anymore”
(Tradicional)

“Almost Heaven, West Virginia
Blue Ridge Mountais, Shenandoah River,
Life is older, older than the trees
Younger than the mountains, growin’ like a breeze”
(John Denver – Take me Home, Country Roads)

“In my mind I’m going to Carolina
Can’t you see the sunshine?
Now can you feel the moonshine?”
(James Taylor – Carolina in My Mind)

Os primeiros colonizadores europeus do que viria a ser os Estados Unidos da América não foram os ingleses, mas sim os espanhóis, que em 1565 fundaram, na região da Florida, St. Augustine, que é considerada a primeira ocupação estrangeira permanente no território americano.

Algumas décadas mais tarde os franceses começaram a explorar toda a região da bacia do Mississipi, a que chamaram Louisiana, em honra de Luís XIV.

Os holandeses expulsaram os índios que aí viviam e ocuparam toda a região que corresponderá hoje a Nova Iorque e arredores (a que então chamaram New Amsterdam), antes de serem, eles próprios, expulsos pelos britânicos, em 1664.
É no início do Séc XVII que, fugindo à fome, à prisão, a perseguições políticas e/ou religiosas, ou meramente em busca da aventura e de uma riqueza fácil e repentina, os britânicos iniciam as suas primeiras tentativas sérias de colonização do território norte-americano.


A primeira ocupação permanente foi Jamestown, em 1607, numa região a que chamaram “Virgínia”, em homenagem à “Rainha Virgem” Elizabeth I. Inicialmente esta ocupação não tinha por objetivo uma instalação perene e duradoura, mas sim um fim meramente material, que era a procura de ouro e outros metais preciosos. Nem um nem outros foram encontrados, mas a mitologia não perdeu tempo a encontrar os seus primeiros heróis: o Capitão John Smith e a jovem Pocahontas!

O fracasso inicial da aventura de Jamestown levou a que fossem alterados os seus objetivos e introduzidas práticas de cultivo do solo, já numa perspetiva de sedentarização. Foi iniciado, com grande sucesso futuro, o cultivo do tabaco e esse facto foi muito importante porque conduziu à importação dos primeiros escravos  para trabalharem nessas plantações. Chegaram também, por esta altura, as primeiras vagas de mulheres a um colónia até então exclusivamente ocupada por homens. Jamestown iria entrar, mais tarde, em declínio, mas a colonização da Virgínia já estava iniciada.

Para quem se interessar, recomendo a visão ou a revisão de “New World”, o belo filme de Terence Malick que se debruça, precisamente, sobre estes tempos e estes lugares.



A colonização sistemática da costa atlântica da América continuou com a Nova Inglaterra, a que chegaram grandes vagas de populações em busca de liberdade religiosa, pertencentes a dois grupos distintos: os “Peregrinos” e os “Puritanos”. Os primeiros “Pilgrim Fathers” chegaram no célebre “Mayflower” e ocuparam, no final de 1620, uma colónia numa zona que corresponde hoje à região de Plymouth; os segundos chegaram um pouco mais tarde, em 1629, e ocuparam a região da Baía de Massachusetts.

A colonização prosseguiu ao longo de toda a costa e na região Sul, em novas colónias como Connecticut (1633), Maryland (1632) Rhode Island (1636), Delaware (1638), Pensilvânia (1643), para além da atrás referida Virgínia, já então uma colónia muito avançada, com um sistema de governo próprio e uma câmara legislativa, que fazia da exportação do tabaco para o Reino Unido a sua principal ocupação.


Em 1712 a Carolina (assim chamada em homenagem a Carlos I de Inglaterra) foi dividida em três regiões: a Carolina do Norte e a Carolina do Sul, e uma terceira região escassamente povoada, a Geórgia, que acabaria por ser povoada e transformada em colónia uns anos mais tarde, em 1733, à custa de sucessivas vagas de “indesejáveis” expulsos do Reino Unido.

Por volta de 1750 as treze colónias então existentes na América constituíam já uma realidade multicultural, e não parava de crescer o número de emigrantes que debandavam essas terras, provenientes, sobretudo, da Europa. Por outro lado, as enormes plantações de tabaco e arroz nas colónias do Sul intensificaram o recurso à mão-de-obra escrava, maioritariamente proveniente de África, estimando-se que, por essa mesma altura, para uma população total de 1,3 milhões de habitantes existiriam já 250 mil escravos. E só nas duas Carolinas a mão-de-obra escrava representaria já 60% da população total.



Isto foi, apenas, uma pequena introdução histórica para vos situar no tempo e no espaço, e agora vamos à Música de toda esta região, que é o que me trás aqui hoje.

Todos esses povos trouxeram consigo a sua “Cultura” e, naturalmente e enquanto parte integrante desta, a sua música, as suas danças, os seus ritmos e os seus instrumentos musicais. Essa música assumiu formas muito distintas mas, tendo os irlandeses, os escoceses, os ingleses e os africanos (estes à força…) sido os pioneiros desta colonização, não é de estranhar que a influência da sua música nesta região e, posteriormente, em toda a América, tenha adquirido preponderância face às restantes
Do Reino Unido, e em particular da Irlanda e da Escócia, vieram as músicas de dança instrumentais, a que hoje chamamos “reels” e “jigs”, suportadas por instrumentos tais como o violino e toda a panóplia de instrumentos de sopro que associamos à música celta. Mas também de lá vieram músicas não instrumentais, a que chamamos baladas ou “airs”, originalmente interpretadas com um suporte instrumental mais simples, como é o caso da harpa.



De África vieram diversas variedades de tambores e também um instrumento novo cuja evolução haveria de dar origem a um dos principais instrumentos utilizados na “Folk Music”: o banjo.

Da Alemanha veio o acordeão, tendo a guitarra, que só começou a ser utilizada nesta música de forma sistemática a partir de meados do Séc. XIX, vindo do Sul da Europa.

Esta música original expandiu-se, entranhou-se na terra (“all the music that falls between the cracks”, foi a feliz expressão que Mike Seeger encontrou para definir “Folk Music”….), foi transmitida de geração a geração por via oral, sendo sucessivamente transformada e incorporada em novas formas musicais localmente produzidas, sem que se saiba, muitas vezes, onde terminam umas e começam as outras.

Há, porém, regiões onde, dado o seu relativo isolamento, essas músicas se mantiveram ainda durante largas décadas na sua pureza original, tanto na forma de canto como no suporte instrumental. É o caso dos Montes Apalaches, para a música de origem anglo-saxónica, e algumas regiões do sudeste, para a música de origem afro-americana.

As estradas largas de acesso aos Apalaches só foram concluídas no final dos anos 30 do século passado. Até lá havia estradas mais estreitas para as principais povoações, mas daí para os diversos lugarejos espalhados pelas montanhas só caminhos de terra muito rudimentares. 

O acesso era, consequentemente,  muito difícil e os habitantes dessas regiões sentiam-se isolados, como bem demonstra o trecho da canção que escolhi para uma das epígrafes deste texto, que é um tradicional adaptado por A. P. Carter, popularizado, entre outros, por Joan Baez no final dos anos 60.


Mas, como refiro mais à frente, esse isolamento favoreceu-os, permitindo que não tivessem perdido a sua identidade social e musical. 

Assim, desta região dos Apalaches vieram para integrar o cancioneiro americano canções  tão conhecidas como “Amazing Grace, “Matty Groves”, “Barbara Allen”, “Pretty Saro”, “Wainfarin’ Stranger”, “The Cuckoo Bird”, “House Carpenter”, “Come All Ye Fair And Tender Ladies”, “Wildwood Flower” e tantas, tantas outras...

Para o divulgação dessa música  foi, porém, determinante o papel dos etnomusicólogos, dos quais o pioneiro foi o professor de Harvard Francis James Child, que recolheu e publicou, em 1882, uma primeira coletânea de “airs” com origem escocesa e inglesa, que então já se cantavam e tocavam  na América. 


Já em pleno séc. XX, quando se iniciaram as emissões de Rádio, a primeira das quais teve lugar através da  KDKA, em Pittsburg, em 1920, e quando, pela mesma altura, as gravações de música começaram a ter alguma qualidade de registo e reprodução, a música da região dos Apalaches começou a suscitar mais atenção.

Com efeito, Rádio e Editoras discográficas ajudam-se mutuamente. A disponibilidade de discos facilitava a atividade da primeira e a difusão dos discos na Rádio fomentava o negócio das segundas…

A Rádio começou a fazer, também, emissões “ao vivo”, não só de intérpretes isolados, mas também da chamada “barn dance”, que constitui um dos elementos fundamentais dos futuros espetáculos de “Country Music”.


“Country Music”, porém, era nome que, nessa época, ainda não existia. Na altura ainda não se sabia muito bem como designar essa música e cada Rádio e cada Editora escolhia a sua designação.  Chamaram-lhe, então,  “Old Time Southern Tunes”, “Rural Music”, “Hill Country Music”, “Oldtime Music” e até “Native American Melodies”.

Em 1922 Ralph Peer,  “caçador de talentos” da Okeh Records e nome importantíssimo na história da Música Tradicional Americana a que ainda hei-de voltar várias vezes, fez aquela que hoje se considera ser a primeira gravação com intuitos comerciais desta música rural, registando o violinista do Texas Eck Robertson a interpretar “Sallie Goodin”.

Não obstante o interesse histórico desta gravação, o seu sucesso comercial foi reduzido, mas Ralph Peer voltaria à carga no ano seguinte quando gravou, em Atlanta, o trabalhador rural Fiddlin’ John Carson, de 54 anos, outro virtuoso do violino, a cantar e a tocar “Little Old Cabin in the Lane”, que passa por ser a primeira gravação de “Country Music” a incorporar o canto. Ainda hoje pode ouvida no YouTube...


Fiddlin’ John Carson tinha, na altura, muita fama na região e um empresário local garantiu a Ralph Peer que, se o gravasse, lhe compraria, à cabeça, 500 exemplares do disco. Peer não estava muito convencido da qualidade da gravação, mas avançou e o disco vendeu-se bem.

 Em 1924, na Victor Records, Vernon Dalhart,  texano a trabalhar em Nova Iorque, obteve com “The Reck of the Old 97”, o primeiro grande sucesso deste tipo de música à escala nacional, tendo vendido um milhão de discos. Também pode ser ouvida no YouTube. 



Em 1925 Ralph Peer fez uma outra gravação com uma “string band” da Carolina do Norte liderada por Al Hopkins, que se chamavam a si próprios “a bunch of hillbillies”.
Peer achou graça à expressão, deu esse nome à banda e o enorme sucesso que tiveram levou a que muitos outros grupos adotassem também esse nome (Jess Hillard & His West Virginia Hillbillies, por exemplo) e rapidamente  essa música dos Apalaches passou a ser conhecida como “Hillbilly Music”, nome que perdurou até que a designação de “Country Music” se viesse a instalar em definitivo, em meados dos anos 40.  


No Verão de 1927, em Bristol, na fronteira entre o Tennessee e West Virginia, teve lugar um evento de crucial importância para o desenvolvimento e consolidação desta Música à escala nacional.
Tão importante ele é que tenho de lhe dedicar um texto inteirinho, dizendo-vos apenas, para vos abrir o  apetite, que Johnny Cash lhe chamou “the single most important event in the history of Country Music”…

Com a passagem dos anos o sucesso deste tipo de Música foi crescendo e, mesmo tendo em consideração os efeitos negativos da Grande Depressão, estima-se que entre 1925 e 1932 tenham sido vendidos 65 milhões de discos desta música rural maioritariamente branca

Para além daqueles interpretes de que atrás vos falei, e de outros que deixarei, propositadamente, para o próximo texto, Unce Dave Macon, Riley Pucket, Charlie Poole e Ernest Stoneman foram as principais figuras desta música nos anos 20 e inícios dos anos 30. Só este último, patriarca da Stoneman Family, a primeira dinastia da “Country Music”, gravou à sua conta mais de cem faixas.


Mas os anos foram passando, a “Country Music”, com a ajuda da Rádio e, depois, da Televisão, foi-se instalando com as suas versões mais “adocicadas” e comerciais e toda esta “old time music” foi perdendo, progressivamente, relevância. As  formas de cantar, a rudeza dos instrumentos e a natureza das próprias canções e dos seus arranjos tornaram-se incompatíveis com os gostos de um grande público que começava a ficar habituado a um som mais moderno, melódico e padronizado.

Os velhos interpretes que, com raras exceções,  nunca chegaram a ser profissionais a tempo inteiro, regressaram, então, às suas anteriores ocupações nos campos, nas minas ou na fábricas. Podiam manter, como muitos mantiveram, uma atividade musical a um nível local, mas num universo mais alargado foram também, eles próprios, caindo num relativo esquecimento. 

Mas muitos anos depois, algures em Nova Iorque, houve alguém que nunca os esqueceu.

Harry Smith, musicólogo, cineasta e artista plástico de vanguarda, colecionou esses velhos  discos dos anos 20 e 30 e em 1952, em colaboração com a  Editora Folkways, selecionou 84 dessas músicas, de diversos géneros, e incluiu-as naquilo que se iria tornar a lendária “Anthology of American Folk Music”.


O sucesso comercial não foi tremendo mas, nos anos que se seguiram, a relevância artística desta obra foi enorme todos quantos, mais tarde, foram gente grande na “Folk Music” lhe dedicaram uma enorme devoção e gratidão. Dave Van Ronk, por exemplo, chamou-lhe “our Bible” e acrescentou que “we all knew every word of every song in it, including the ones we hated”.

Naquilo a que se convencionou chamar o “Folk Revival” dos anos 50/60, e até numa perspetiva de contrariar a tendência excessivamente comercial e padronizada de que essa música se começou a revestir, sobretudo após o surgimentos dos The Kingston Trio em 1958 , da audição da “Antologia” de Harry Smith  surgiu um renovado interesse por esta música antiga e pelas suas formas de interpretação, e muito boa gente começou a andar, de microfone em punho, a subir e a descer os Apalaches na esperança de reencontra esses velhos intérpretes e voltar a gravar as suas canções, com uma qualidade acrescida tornada possível pela mais moderna tecnologia.


Encontraram alguns que fizeram parte da “Antologia”, a quem proporcionaram uma segunda carreira musical (Clarence Ashley, Roscoe Holcomb, Doc Boggs,  Furry Lewis, Bascom Lamar Lundsford, …) mas, para seu grande espanto, depararam com outros de que nunca antes tinham ouvido falar e cuja existência desconheciam. Deixo-vos apenas em exemplo, e que exemplo…!

Em 1961 o grande Doc Watson foi descoberto assim, por mero acaso, integrando a banda de Clarence Ashley…

O interesse por esta música antiga demonstrado por uma minoria da comunidade “Folk” foi tal que levou à criação de uma organização não lucrativa chamada “Friends of Old Time Music”, com o propósito de a divulgar e fomentar a organização de espetáculos com todos estes velhos intérpretes, bem como com os mais novos que foram sendo descobertos. Só em Nova Iorque foram realizados 14 espetáculos entre 1961 e 1965, mas muitos outros se realizaram noutras cidades.

A história é bonita porque os velhotes voltaram à tona de água e acabaram a sua vida musical com outro reconhecimento e com outra dignidade. Muitos deles tinham estado em Nova Iorque trinta anos antes para fazerem gravações nas editoras locais, e nunca mais lá haviam posto os pés...


A Música dos Apalaches é inesgotável e perdurou até aos dias de hoje, com novos intérpretes de elevadíssima qualidade, mas tenho de ficar por aqui porque isto já vai muito longo, não vos quero massacrar mais, mas ainda vos tenho de falar de mim.   

Os Apalaches são uma cadeia montanhosa com 3.200 km de extensão, desde a Terra Nova, no Canadá até ao Estado de Alabama.

Não tendo qualquer possibilidade de a atravessar em toda a sua extensão, optei por fazer algumas tiradas nas regiões de maior tradição musical, que são os “central” e “southern Appalachians”,, abrangendo os estados de West Virginia, Virginia, as duas Carolinas e uma parte mais limitada do Kentucky e do Tennessee.

Nas Blue Ridge Mountains, atravessei os 169 Km do Shenandoah National Park através da Skyline Drive, que é considerada uma das estradas mais bonitas dos Estados Unidos.

Mais abaixo fiz uma parte da Blue Ridge Parkway, que é a continuação das  Blue Ridge Mountains para o Sul.

Fiz toda a região de Bristol e depois também fiz, até Asheville, uma parte da Cherokee National Forest.

E mais a Sul ainda fiz uma pequeníssima parte do Great Smoky Mountains National Park, perto de Ashville.

Deixo-vos algumas fotografias, embora seja literalmente impossível captar a magia e a beleza daqueles espaços e daquelas cordilheiras a perder de vista.

Durante anos e anos aprendi a gostar da Música destas montanhas, vi filmes que  aqui se passavam, fotografias e documentários a preto e branco com esta pobre e humilde gente vestida com os seus “fatos de macaco”, sentada no alpendre das suas pobres casas de madeira com os seus instrumentos musicais ao colo, com um sorriso que irradiava alguma Felicidade.


Não, de maneira nenhuma pretendo fazer uma apologia do miserabilismo, como quem vos diz: “vejam lá, tão pobres e tão felizes que eles eram…!” 
  
O que vos pretendo dizer  é que os parcos rendimentos que tinham e o enorme isolamento que sofriam face a um mundo exterior dito “civilizado” os protegeu e não os fez criar, artificialmente, outras necessidades… Nos tempos livres não iam para os centros comerciais, para os “drive-in”, para o “bowling” ou para os estádios ver o “baseball”… Vestiam a sua roupa domingueira, pegavam nos seus instrumentos, juntavam-se à vizinhança, cantavam, dançavam e tocavam música, e talvez que isso, à falta de melhores condições de vida,  lhes pudesse trazer alguma Realização e alguma Felicidade.

Em todos os documentários que vi (há muitos no YouTube…) não me lembro de ter visto um único desses montanheses lamentar a sua sorte, mas vi alguns a dizerem, com indisfarçável nostalgia, que agora já havia por ali muita gente de fora e que as coisas já não eram o que dantes haviam sido... 



Por sorte e coincidência, durante parte desta travessia dos Apalaches tive uma pequena zanga com a minha Mulher (culpa dela, como sempre…), o que me permitiu estar largas horas entregue às minhas memórias e aos meus pensamentos, sem ter de falar com ninguém, a não ser comigo próprio, que na altura era  o que mais poderia desejar.

A velocidade máxima permitida é muito baixa (35 milhas, pouco mais que 56 Km/hora) pelo que havia vagar. 

Pela minha cabeça passavam, num ápice, coisas tão diferentes como o querido cego Doc Watson, acompanhado pelo filho Merle, a cantar “The Banks of Ohio”, a terna Jean Ritchie   “a cappella” em “Barbara Allen”, a bela Anita Carter em “Fair and Tender Ladies” e todas  essas imagens que me lembrava de ter visto em fotografia e no Cinema.

Mas não eram, apenas, essas memórias que me encantavam.



A paisagem, em si, era deslumbrante, e quando o Sol começou a descer no horizonte o verde vivo das montanhas assumia, a pouco e pouco, tonalidades de amarelo e de laranja, o azul forte do céu da manhã transformara-se, no fio do horizonte, numa belíssima combinação de verde claro, azul turquesa e de cor de rosa,  que tentei inúmeras vezes captar, sem qualquer sucesso.

Fosse eu um verdadeiro Escritor, e não um mero escrevinhador de redações, saberia escolher as palavras adequadas para vos dar conta do encanto e da emoção que me envolveram naqueles momentos.  

Assim, deixo tudo à vossa imaginação.

PS:

1) Mencionar-vos uma só fonte de informação para tudo isto que vos disse é tarefa difícil, porque são muitos anos de leituras e de gosto por esta Música.
Talvez que na reta final de elaboração do texto o mais útil tenha sido “American Roots Music”, obra coletiva coordenada por Robert Santelli, que deu origem a uma série televisiva, um livro e um CD.  

2) Como já vos falei tanto de “Blues” nestes textos, e ainda mais terei de falar, não vos contei que os Apalaches têm uma forma de “Blues” muito própria, sobretudo o chamado “Piedmont Blues”, da região do mesmo nome, tendo sido Pink Anderson um dos seus maiores interpretes. Consta que Syd Barrett gostava dessa música e que tinha na sua coleção um velho disco de Pink Anderson, acompanhado à viola por Floyd Council. Adivinhem no que isso deu...

Texto e fotografias de Luís Miguel Mira

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