“My home is across the Blue Ridge Mountais,
And I never expect to see you anymore”
(Tradicional)
“Almost Heaven, West Virginia
Blue Ridge Mountais, Shenandoah River,
Life is older, older than the trees
Younger than the mountains, growin’ like a
breeze”
(John
Denver – Take me Home, Country Roads)
“In my mind I’m going to Carolina
Can’t you see the sunshine?
Now can you feel the moonshine?”
(James
Taylor – Carolina in My Mind)
Os primeiros
colonizadores europeus do que viria a ser os Estados Unidos da América não
foram os ingleses, mas sim os espanhóis, que em 1565 fundaram, na região da
Florida, St. Augustine, que é considerada a primeira ocupação estrangeira
permanente no território americano.
Algumas décadas mais
tarde os franceses começaram a explorar toda a região da bacia do Mississipi, a
que chamaram Louisiana, em honra de Luís XIV.
Os holandeses
expulsaram os índios que aí viviam e ocuparam toda a região que corresponderá
hoje a Nova Iorque e arredores (a que então chamaram New Amsterdam), antes de
serem, eles próprios, expulsos pelos britânicos, em 1664.
É no início do Séc
XVII que, fugindo à fome, à prisão, a perseguições políticas e/ou religiosas,
ou meramente em busca da aventura e de uma riqueza fácil e repentina, os
britânicos iniciam as suas primeiras tentativas sérias de colonização do
território norte-americano.
A primeira ocupação
permanente foi Jamestown, em 1607, numa região a que chamaram “Virgínia”, em
homenagem à “Rainha Virgem” Elizabeth I. Inicialmente esta ocupação não tinha
por objetivo uma instalação perene e duradoura, mas sim um fim meramente
material, que era a procura de ouro e outros metais preciosos. Nem um nem
outros foram encontrados, mas a mitologia não perdeu tempo a encontrar os seus
primeiros heróis: o Capitão John Smith e a jovem Pocahontas!
O fracasso inicial da
aventura de Jamestown levou a que fossem alterados os seus objetivos e
introduzidas práticas de cultivo do solo, já numa perspetiva de sedentarização.
Foi iniciado, com grande sucesso futuro, o cultivo do tabaco e esse facto foi
muito importante porque conduziu à importação dos primeiros escravos para
trabalharem nessas plantações. Chegaram também, por esta altura, as primeiras
vagas de mulheres a um colónia até então exclusivamente ocupada por homens. Jamestown
iria entrar, mais tarde, em declínio, mas a colonização da Virgínia já estava
iniciada.
Para quem se
interessar, recomendo a visão ou a revisão de “New World”, o belo filme de
Terence Malick que se debruça, precisamente, sobre estes tempos e estes lugares.
A colonização
sistemática da costa atlântica da América continuou com a Nova Inglaterra, a
que chegaram grandes vagas de populações em busca de liberdade religiosa,
pertencentes a dois grupos distintos: os “Peregrinos” e os “Puritanos”. Os
primeiros “Pilgrim Fathers” chegaram no célebre “Mayflower” e ocuparam, no
final de 1620, uma colónia numa zona que corresponde hoje à região de Plymouth;
os segundos chegaram um pouco mais tarde, em 1629, e ocuparam a região da Baía
de Massachusetts.
A colonização
prosseguiu ao longo de toda a costa e na região Sul, em novas colónias como
Connecticut (1633), Maryland (1632) Rhode Island (1636), Delaware (1638),
Pensilvânia (1643), para além da atrás referida Virgínia, já então uma colónia
muito avançada, com um sistema de governo próprio e uma câmara legislativa, que
fazia da exportação do tabaco para o Reino Unido a sua principal ocupação.
Em 1712 a Carolina
(assim chamada em homenagem a Carlos I de Inglaterra) foi dividida em três
regiões: a Carolina do Norte e a Carolina do Sul, e uma terceira região
escassamente povoada, a Geórgia, que acabaria por ser povoada e transformada em
colónia uns anos mais tarde, em 1733, à custa de sucessivas vagas de
“indesejáveis” expulsos do Reino Unido.
Por volta de 1750 as
treze colónias então existentes na América constituíam já uma realidade
multicultural, e não parava de crescer o número de emigrantes que debandavam
essas terras, provenientes, sobretudo, da Europa. Por outro lado, as enormes
plantações de tabaco e arroz nas colónias do Sul intensificaram o recurso à
mão-de-obra escrava, maioritariamente proveniente de África, estimando-se que,
por essa mesma altura, para uma população total de 1,3 milhões de habitantes
existiriam já 250 mil escravos. E só nas duas Carolinas a mão-de-obra escrava
representaria já 60% da população total.
Isto foi, apenas, uma
pequena introdução histórica para vos situar no tempo e no espaço, e agora
vamos à Música de toda esta região, que é o que me trás aqui hoje.
Todos esses povos trouxeram
consigo a sua “Cultura” e, naturalmente e enquanto parte integrante desta, a
sua música, as suas danças, os seus ritmos e os seus instrumentos musicais.
Essa música assumiu formas muito distintas mas, tendo os irlandeses, os
escoceses, os ingleses e os africanos (estes à força…) sido os pioneiros desta
colonização, não é de estranhar que a influência da sua música nesta região e,
posteriormente, em toda a América, tenha adquirido preponderância face às
restantes
Do Reino Unido, e em
particular da Irlanda e da Escócia, vieram as músicas de dança instrumentais, a
que hoje chamamos “reels” e “jigs”, suportadas por instrumentos tais como o
violino e toda a panóplia de instrumentos de sopro que associamos à música
celta. Mas também de lá vieram músicas não instrumentais, a que chamamos
baladas ou “airs”, originalmente interpretadas com um suporte instrumental mais
simples, como é o caso da harpa.
De África vieram
diversas variedades de tambores e também um instrumento novo cuja evolução
haveria de dar origem a um dos principais instrumentos utilizados na “Folk
Music”: o banjo.
Da Alemanha veio o
acordeão, tendo a guitarra, que só começou a ser utilizada nesta música de
forma sistemática a partir de meados do Séc. XIX, vindo do Sul da Europa.
Esta música original
expandiu-se, entranhou-se na terra (“all the music that falls between the
cracks”, foi a feliz expressão que Mike Seeger encontrou para definir
“Folk Music”….), foi transmitida de geração a geração por via oral, sendo
sucessivamente transformada e incorporada em novas formas musicais localmente
produzidas, sem que se saiba, muitas vezes, onde terminam umas e começam as
outras.
Há, porém, regiões
onde, dado o seu relativo isolamento, essas músicas se mantiveram ainda durante
largas décadas na sua pureza original, tanto na forma de canto como no suporte
instrumental. É o caso dos Montes Apalaches, para a música de origem
anglo-saxónica, e algumas regiões do sudeste, para a música de origem
afro-americana.
As estradas largas de
acesso aos Apalaches só foram concluídas no final dos anos 30 do século
passado. Até lá havia estradas mais estreitas para as principais povoações, mas
daí para os diversos lugarejos espalhados pelas montanhas só caminhos de terra
muito rudimentares.
O acesso era,
consequentemente, muito difícil e os habitantes dessas regiões sentiam-se
isolados, como bem demonstra o trecho da canção que escolhi para uma das
epígrafes deste texto, que é um tradicional adaptado por A. P. Carter,
popularizado, entre outros, por Joan Baez no final dos anos 60.
Mas, como refiro mais
à frente, esse isolamento favoreceu-os, permitindo que não tivessem perdido a
sua identidade social e musical.
Assim, desta região
dos Apalaches vieram para integrar o cancioneiro americano canções tão
conhecidas como “Amazing Grace, “Matty Groves”, “Barbara Allen”, “Pretty Saro”,
“Wainfarin’ Stranger”, “The Cuckoo Bird”, “House Carpenter”, “Come All Ye Fair
And Tender Ladies”, “Wildwood Flower” e tantas, tantas outras...
Para o divulgação
dessa música foi, porém, determinante o papel dos etnomusicólogos, dos
quais o pioneiro foi o professor de Harvard Francis James Child, que recolheu e
publicou, em 1882, uma primeira coletânea de “airs” com origem escocesa e
inglesa, que então já se cantavam e tocavam na América.
Já em pleno séc. XX,
quando se iniciaram as emissões de Rádio, a primeira das quais teve lugar
através da KDKA, em Pittsburg, em 1920, e quando, pela mesma altura, as
gravações de música começaram a ter alguma qualidade de registo e reprodução, a
música da região dos Apalaches começou a suscitar mais atenção.
Com efeito, Rádio e
Editoras discográficas ajudam-se mutuamente. A disponibilidade de discos
facilitava a atividade da primeira e a difusão dos discos na Rádio fomentava o
negócio das segundas…
A Rádio começou a
fazer, também, emissões “ao vivo”, não só de intérpretes isolados, mas também
da chamada “barn dance”, que constitui um dos elementos fundamentais dos
futuros espetáculos de “Country Music”.
“Country Music”,
porém, era nome que, nessa época, ainda não existia. Na altura ainda não se
sabia muito bem como designar essa música e cada Rádio e cada Editora escolhia
a sua designação. Chamaram-lhe, então, “Old Time
Southern Tunes”, “Rural Music”, “Hill Country Music”, “Oldtime Music” e até
“Native American Melodies”.
Em 1922 Ralph
Peer, “caçador de talentos” da Okeh Records e nome importantíssimo na
história da Música Tradicional Americana a que ainda hei-de voltar várias
vezes, fez aquela que hoje se considera ser a primeira gravação com intuitos
comerciais desta música rural, registando o violinista do Texas Eck Robertson a
interpretar “Sallie Goodin”.
Não obstante o
interesse histórico desta gravação, o seu sucesso comercial foi reduzido, mas
Ralph Peer voltaria à carga no ano seguinte quando gravou, em Atlanta, o
trabalhador rural Fiddlin’ John Carson, de 54 anos, outro virtuoso do violino,
a cantar e a tocar “Little Old Cabin in the Lane”, que passa por ser a primeira
gravação de “Country Music” a incorporar o canto. Ainda hoje pode ouvida no
YouTube...
Fiddlin’ John Carson
tinha, na altura, muita fama na região e um empresário local garantiu a Ralph
Peer que, se o gravasse, lhe compraria, à cabeça, 500 exemplares do disco. Peer
não estava muito convencido da qualidade da gravação, mas avançou e o disco
vendeu-se bem.
Em 1924, na
Victor Records, Vernon Dalhart, texano a trabalhar em Nova Iorque, obteve
com “The Reck of the Old 97”, o primeiro grande sucesso deste tipo de música à
escala nacional, tendo vendido um milhão de discos. Também pode ser ouvida no
YouTube.
Em 1925 Ralph Peer
fez uma outra gravação com uma “string band” da Carolina do Norte
liderada por Al Hopkins, que se chamavam a si próprios “a bunch of
hillbillies”.
Peer achou graça à
expressão, deu esse nome à banda e o enorme sucesso que tiveram levou a que
muitos outros grupos adotassem também esse nome (Jess Hillard & His West
Virginia Hillbillies, por exemplo) e rapidamente essa música dos
Apalaches passou a ser conhecida como “Hillbilly Music”, nome que perdurou até
que a designação de “Country Music” se viesse a instalar em definitivo, em
meados dos anos 40.
No Verão de 1927, em
Bristol, na fronteira entre o Tennessee e West Virginia, teve lugar um evento
de crucial importância para o desenvolvimento e consolidação desta Música à
escala nacional.
Tão importante ele é
que tenho de lhe dedicar um texto inteirinho, dizendo-vos apenas, para vos
abrir o apetite, que Johnny Cash lhe chamou “the single most important
event in the history of Country Music”…
Com a passagem dos
anos o sucesso deste tipo de Música foi crescendo e, mesmo tendo em
consideração os efeitos negativos da Grande Depressão, estima-se que entre 1925
e 1932 tenham sido vendidos 65 milhões de discos desta música rural
maioritariamente branca
Para além daqueles
interpretes de que atrás vos falei, e de outros que deixarei, propositadamente,
para o próximo texto, Unce Dave Macon, Riley Pucket, Charlie Poole e Ernest
Stoneman foram as principais figuras desta música nos anos 20 e inícios dos anos
30. Só este último, patriarca da Stoneman Family, a primeira dinastia da
“Country Music”, gravou à sua conta mais de cem faixas.
Mas os anos foram
passando, a “Country Music”, com a ajuda da Rádio e, depois, da Televisão,
foi-se instalando com as suas versões mais “adocicadas” e comerciais e toda
esta “old time music” foi perdendo, progressivamente, relevância.
As formas de cantar, a rudeza dos instrumentos e a natureza das próprias
canções e dos seus arranjos tornaram-se incompatíveis com os gostos de um
grande público que começava a ficar habituado a um som mais moderno, melódico e
padronizado.
Os velhos interpretes
que, com raras exceções, nunca chegaram a ser profissionais a tempo
inteiro, regressaram, então, às suas anteriores ocupações nos campos, nas minas
ou na fábricas. Podiam manter, como muitos mantiveram, uma atividade musical a
um nível local, mas num universo mais alargado foram também, eles próprios,
caindo num relativo esquecimento.
Mas muitos anos
depois, algures em Nova Iorque, houve alguém que nunca os esqueceu.
Harry Smith,
musicólogo, cineasta e artista plástico de vanguarda, colecionou esses
velhos discos dos anos 20 e 30 e em 1952, em colaboração com a
Editora Folkways, selecionou 84 dessas músicas, de diversos géneros, e incluiu-as
naquilo que se iria tornar a lendária “Anthology of American Folk Music”.
O sucesso comercial
não foi tremendo mas, nos anos que se seguiram, a relevância artística desta
obra foi enorme todos quantos, mais tarde, foram gente grande na “Folk Music”
lhe dedicaram uma enorme devoção e gratidão. Dave Van Ronk, por
exemplo, chamou-lhe “our Bible” e acrescentou que “we all knew every
word of every song in it, including the ones we hated”.
Naquilo a que se
convencionou chamar o “Folk Revival” dos anos 50/60, e até numa perspetiva de
contrariar a tendência excessivamente comercial e padronizada de que essa
música se começou a revestir, sobretudo após o surgimentos dos The Kingston
Trio em 1958 , da audição da “Antologia” de Harry Smith surgiu um renovado
interesse por esta música antiga e pelas suas formas de interpretação, e muito
boa gente começou a andar, de microfone em punho, a subir e a descer os
Apalaches na esperança de reencontra esses velhos intérpretes e voltar a gravar
as suas canções, com uma qualidade acrescida tornada possível pela mais moderna
tecnologia.
Encontraram alguns
que fizeram parte da “Antologia”, a quem proporcionaram uma segunda carreira
musical (Clarence Ashley, Roscoe Holcomb, Doc Boggs, Furry Lewis, Bascom
Lamar Lundsford, …) mas, para seu grande espanto, depararam com outros de que
nunca antes tinham ouvido falar e cuja existência desconheciam. Deixo-vos
apenas em exemplo, e que exemplo…!
Em 1961 o grande Doc
Watson foi descoberto assim, por mero acaso, integrando a banda de Clarence
Ashley…
O interesse por esta
música antiga demonstrado por uma minoria da comunidade “Folk” foi tal que
levou à criação de uma organização não lucrativa chamada “Friends of Old Time
Music”, com o propósito de a divulgar e fomentar a organização de espetáculos
com todos estes velhos intérpretes, bem como com os mais novos que foram sendo
descobertos. Só em Nova Iorque foram realizados 14 espetáculos entre 1961 e
1965, mas muitos outros se realizaram noutras cidades.
A história é bonita
porque os velhotes voltaram à tona de água e acabaram a sua vida musical com
outro reconhecimento e com outra dignidade. Muitos deles tinham estado em Nova
Iorque trinta anos antes para fazerem gravações nas editoras locais, e nunca
mais lá haviam posto os pés...
A Música dos
Apalaches é inesgotável e perdurou até aos dias de hoje, com novos intérpretes
de elevadíssima qualidade, mas tenho de ficar por aqui porque isto já vai muito
longo, não vos quero massacrar mais, mas ainda vos tenho de falar de
mim.
Os Apalaches são uma
cadeia montanhosa com 3.200 km de extensão, desde a Terra Nova, no Canadá até
ao Estado de Alabama.
Não tendo qualquer
possibilidade de a atravessar em toda a sua extensão, optei por fazer algumas
tiradas nas regiões de maior tradição musical, que são os “central” e “southern
Appalachians”,, abrangendo os estados de West Virginia, Virginia, as duas
Carolinas e uma parte mais limitada do Kentucky e do Tennessee.
Nas Blue Ridge
Mountains, atravessei os 169 Km do Shenandoah National Park através da Skyline
Drive, que é considerada uma das estradas mais bonitas dos Estados Unidos.
Mais abaixo fiz uma
parte da Blue Ridge Parkway, que é a continuação das Blue Ridge Mountains
para o Sul.
Fiz toda a região de
Bristol e depois também fiz, até Asheville, uma parte da Cherokee National
Forest.
E mais a Sul ainda
fiz uma pequeníssima parte do Great Smoky Mountains National Park, perto de
Ashville.
Deixo-vos algumas
fotografias, embora seja literalmente impossível captar a magia e a beleza
daqueles espaços e daquelas cordilheiras a perder de vista.
Durante anos e anos
aprendi a gostar da Música destas montanhas, vi filmes que aqui se
passavam, fotografias e documentários a preto e branco com esta pobre e humilde
gente vestida com os seus “fatos de macaco”, sentada no alpendre das suas
pobres casas de madeira com os seus instrumentos musicais ao colo, com um
sorriso que irradiava alguma Felicidade.
Não, de maneira
nenhuma pretendo fazer uma apologia do miserabilismo, como quem vos diz: “vejam
lá, tão pobres e tão felizes que eles eram…!”
O que vos pretendo
dizer é que os parcos rendimentos que tinham e o enorme isolamento que
sofriam face a um mundo exterior dito “civilizado” os protegeu e não os fez
criar, artificialmente, outras necessidades… Nos tempos livres não iam para os
centros comerciais, para os “drive-in”, para o “bowling” ou para
os estádios ver o “baseball”… Vestiam a sua roupa domingueira, pegavam
nos seus instrumentos, juntavam-se à vizinhança, cantavam, dançavam e tocavam
música, e talvez que isso, à falta de melhores condições de vida, lhes
pudesse trazer alguma Realização e alguma Felicidade.
Em todos os
documentários que vi (há muitos no YouTube…) não me lembro de ter visto um
único desses montanheses lamentar a sua sorte, mas vi alguns a dizerem, com
indisfarçável nostalgia, que agora já havia por ali muita gente de fora e que
as coisas já não eram o que dantes haviam sido...
Por sorte e
coincidência, durante parte desta travessia dos Apalaches tive uma pequena
zanga com a minha Mulher (culpa dela, como sempre…), o que me permitiu estar
largas horas entregue às minhas memórias e aos meus pensamentos, sem ter de
falar com ninguém, a não ser comigo próprio, que na altura era o que mais
poderia desejar.
A velocidade máxima
permitida é muito baixa (35 milhas, pouco mais que 56 Km/hora) pelo que havia
vagar.
Pela minha cabeça
passavam, num ápice, coisas tão diferentes como o querido cego Doc Watson,
acompanhado pelo filho Merle, a cantar “The Banks of Ohio”, a terna Jean
Ritchie “a cappella” em “Barbara Allen”, a bela Anita Carter em “Fair
and Tender Ladies” e todas essas imagens que me lembrava de ter visto em
fotografia e no Cinema.
Mas não eram, apenas,
essas memórias que me encantavam.
A paisagem, em si,
era deslumbrante, e quando o Sol começou a descer no horizonte o verde vivo das
montanhas assumia, a pouco e pouco, tonalidades de amarelo e de laranja, o azul
forte do céu da manhã transformara-se, no fio do horizonte, numa belíssima
combinação de verde claro, azul turquesa e de cor de rosa, que tentei
inúmeras vezes captar, sem qualquer sucesso.
Fosse eu um
verdadeiro Escritor, e não um mero escrevinhador de redações, saberia escolher
as palavras adequadas para vos dar conta do encanto e da emoção que me
envolveram naqueles momentos.
Assim, deixo tudo à
vossa imaginação.
PS:
1) Mencionar-vos uma
só fonte de informação para tudo isto que vos disse é tarefa difícil, porque são
muitos anos de leituras e de gosto por esta Música.
Talvez que na reta
final de elaboração do texto o mais útil tenha sido “American Roots Music”,
obra coletiva coordenada por Robert Santelli, que deu origem a uma série
televisiva, um livro e um CD.
2) Como já vos falei
tanto de “Blues” nestes textos, e ainda mais terei de falar, não vos contei que
os Apalaches têm uma forma de “Blues” muito própria, sobretudo o chamado
“Piedmont Blues”, da região do mesmo nome, tendo sido Pink Anderson um dos seus
maiores interpretes. Consta que Syd Barrett gostava dessa música e que tinha na
sua coleção um velho disco de Pink Anderson, acompanhado à viola por Floyd
Council. Adivinhem no que isso deu...
Texto e fotografias de Luís Miguel Mira
Texto e fotografias de Luís Miguel Mira
Sem comentários:
Enviar um comentário