Montanha
Mágica
Thomas
Mann
Tradução:
Herbert Caro
Revisão:
Maria Graça Fernandes
Capa:
Bernardo Marques
Colecção
Dois Mundos nº 32
Livros
do Brasil, Lisboa, 1958
E
assim, no tumulto, na chuva, no crepúsculo, perdemo-lo de vista.
Adeus,
Hans Castorp, bravo menino mimado da vida! A tua história terminou, Acabámos de
conta-la. Não foi nem breve nem longa, é uma história hermética. Contámo-la por
amor a ela mesma, não por amor a ti, porque tu era simples. Mas, afinal, era a
tua história, como te coube em sorte. Deves ter certas qualidades porque a
viveste, não dissimulamos a simpatia pedagógica que, ao narrá-la nutrimos por
ti, e que seria capaz de induzir-nos a tocar delicadamente o canto de um olho
com a ponta do dedo, ao pensar que nunca mais tornaremos a ver-te nem ouvir-te.
Adeus!
Agora vais viver, ou morrer! Tens poucas probabilidades. Este baile macabro a
que foste arrastado durará ainda alguns anos criminosos e não queremos apostar
muita coisa na tua possibilidade de escapar. Para falar com franqueza, não
sentimos grandes escrúpulos ao deixar esta questão sem resposta. Certas
aventuras da carne e do espírito, que educaram a tua simplicidade permitiram-te
vencer no domínio do espírito aquilo a que não escaparás certamente no domínio
da carne. Momentos houve em que nos sonhos que tu «governavas», viste brotar da
morte e da luxúria do corpo um sonho de amor. Será que dessa festa da morte,
dessa perniciosa febre que incendeia à nossa volta o Céu desta noite chuvosa,
também o amor surgirá um dia?
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