sábado, 25 de julho de 2020

OLHAR AS CAPAS


Montanha Mágica

Thomas Mann
Tradução: Herbert Caro
Revisão: Maria Graça Fernandes
Capa: Bernardo Marques
Colecção Dois Mundos nº 32
Livros do Brasil, Lisboa, 1958

E assim, no tumulto, na chuva, no crepúsculo, perdemo-lo de vista.
Adeus, Hans Castorp, bravo menino mimado da vida! A tua história terminou, Acabámos de conta-la. Não foi nem breve nem longa, é uma história hermética. Contámo-la por amor a ela mesma, não por amor a ti, porque tu era simples. Mas, afinal, era a tua história, como te coube em sorte. Deves ter certas qualidades porque a viveste, não dissimulamos a simpatia pedagógica que, ao narrá-la nutrimos por ti, e que seria capaz de induzir-nos a tocar delicadamente o canto de um olho com a ponta do dedo, ao pensar que nunca mais tornaremos a ver-te nem ouvir-te.
Adeus! Agora vais viver, ou morrer! Tens poucas probabilidades. Este baile macabro a que foste arrastado durará ainda alguns anos criminosos e não queremos apostar muita coisa na tua possibilidade de escapar. Para falar com franqueza, não sentimos grandes escrúpulos ao deixar esta questão sem resposta. Certas aventuras da carne e do espírito, que educaram a tua simplicidade permitiram-te vencer no domínio do espírito aquilo a que não escaparás certamente no domínio da carne. Momentos houve em que nos sonhos que tu «governavas», viste brotar da morte e da luxúria do corpo um sonho de amor. Será que dessa festa da morte, dessa perniciosa febre que incendeia à nossa volta o Céu desta noite chuvosa, também o amor surgirá um dia?

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