domingo, 5 de julho de 2020

VELHOS DISCOS


Ana Bacalhau, à conversa no Expresso, lembrou uma frase lapidar de Janis Joplin:

«Em palco faço amor com 25 mil pessoas e depois vou para casa sozinha»

Lembrou-se de Fernando Lopes Graça, numa noite de Verão, em que Olga Prats o acompanhou até  à sua casa na Parede e ouviu-o dizer:

Eu agora não queria ficar sozinho, fosse quem fosse, homem ou mulher, rapaz ou rapariga, nem que fosse um cão.

Num velho documentário da BBC, sobre Janis Joplin, uma voz-off diz:

 «Antes de Janis Joplin, nenhuma mulher branca cantava assim».

Para Janis Joplin sabe, tal como ouviu a Gin-tonic, que  faltam adjectivos à altura.

Há centenas de versões de “Summertime”, mas a de Janis é diferente, como também ninguém canta “Me And Bobby McGee" como ela, para não falar naquela gargalhada final em Mercedes Benz: «oh! Lord por que não me compras um Mercedes Benz?»

Janis Joplin nasceu em 1943 em Port Arthur, uma pasmaceira perdida no meio do Texas.

A mãe, como boa conservadora americana que era, queria que Janis fosse professora, casasse com um rapaz simples, tivesse filhos, que aos domingos ficasse em casa a fazer tartes de maçã.

Mas Janis descobriu que sabia cantar e passou a querer ir longe, o mais longe possível e que ninguém sabe onde fica.

Gostava de blues e cantava-os com energia, sensualidade, atrevimento, uma loucura extravagante, uma rebeldia cheia de inteligência, um verdadeiro acto de paixão.

Os colegas de universidade chamavam-lhe amante de pretos, ela esticou o dedinho e deixou-lhes um vão-se lixar! e voou para outras paragens.

Sofreu com os homens que lhe apareceram na vida, Country Joe MacDonald portou-se particularmente mal – nobody  is perfec! - mas Joplin só queria cantar e ter um pouco de paz, mas o álcool e as drogas apanharam-na na esquina mais próxima.

A mãe chegou a dizer-lhe que mais valia não ter nascido, mas estava escrito que ninguém a veria sentada no alpendre, ao cair da tarde, numa cadeira de baloiço a beber whisky e a contar histórias.

Nunca controlou os sentimentos, considerava-se o máximo – e era! – só que o fardo apresentou-se demasiado pesado.

Terá dito aos amigos: 

Nunca chegarei aos trinta anos!

A 4 de Outubro de 1970, devido a uma overdose de heroína, foi encontrada morta num quarto de hotel. Tinha 27 anos.

Era cega mas agora vejo.

A frase batida de que morre jovem quem os deuses amam.

«De que serve beber? Posso beber toda a noite e continuar triste na manhã seguinte. Dêem-me gin, bourbon, não interessa o que eu beba desde que me apague as mágoas.»

Saberia ela que as mágoas nunca se apagam?






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