Para assinalar os 10
anos do CAIS DO OLHAR, os fins-de-semana estão guardados para lembrar
alguns textos que por aqui foram sendo publicados.
SOCIEDADE PORTUGUESA DE ESCRITORES
No dia 28 de Maio, às 11 horas, um grupo de escritores
entregou no Ministério da Educação Nacional o seguinte documento:
Exmo Senhor Ministro da Educação Nacional
Contra a extinção da Sociedade Portuguesa de Escritores e contra a campanha de descrédito que pretende desvirtuar a independência e a isenção dessa Sociedade, os escritores abaixo assinados vêm solenemente protestar perante V. Exa. E declarar que são inteiramente solidários com o comportamento digníssimo assumido pela Direcção da Sociedade e com o júri escolhido pela unanimidade dos corpos gerentes eleitos em 1965, que de acordo com os estatutos e a tendendo a um critério meramente estético, concedeu o Grande Prémio de Novelística de 1964 ao livro “Luuanda”. Tal critério meramente estético foi, de resto, o que informou outros júris na atribuição de prémios a diversas obras do mesmo autor, e até ao livro “Luuanda”, agora galardoado pela Sociedade Portuguesa de Escritores.
Com efeito, já em 1961, 1962, 1963 e em 1964, textos de Luandino Vieira foram respectivamente premiados pela Sociedade Cultural de Angola (1º Prémio do Conto), pela Casa dos Estudantes do Império (1º Prémio João Dias) pela Associação dos Naturais de Angola – que neste momento tanto se insurge contra a atribuição do prémio de Novelística da Sociedade Portuguesa de Escritores, (1º e 2º Prémios de Conto) e, ainda há poucos meses, o 1º Prémio Mota Veiga. O facto destas instituições terem considerado exclusivamente o valor estético da Obra de Luandino Vieira e a circunstância muito significativa de o livro agora laureado pela Sociedade Portuguesa de Escritores ser exactamente o mesmo que em 1964 obteve, em Angola, o referido Prémio Mota Veiga, estando já condenado e preso o seu autor, reforçam sem dúvida a idêntica posição do júri do Grande Prémio de Novelística. Sendo assim, e dado que nunca foi levantado acerca daqueles prémios qualquer protesto relacionado com a conduta cívica de Luandino Vieira, nem extinta nenhuma das entidades que lhos concedeu, é licito presumir que a extinção da Sociedade Portuguesa de Escritores manifesta estar ela a ser vítima de medidas especiais de discriminação cultural.
Os signatários exprimem a sua veemente repulsa pelo atentado à liberdade do espírito patente na campanha tendenciosa empreendida contra a Sociedade Portuguesa de Escritores. Solicitam portanto a V. Exª a reabertura da mesma sociedade e a garantia de que os membros do júri não serão sujeitos a pressões de qualquer natureza. Parece-lhes também inteiramente justo e necessário que V. Exª mande proceder a um inquérito rigoroso sobre os desacatos praticados na sede da Sociedade Portuguesa de Escritores por um grupo de indivíduos que deverão ser responsabilizados pelos prejuízos materiais e morais resultantes da sua repugnante acção."
O documento está assinado por 161 escritores portugueses.
Dias antes, já os escritores-capachos-do-regime se tinham apressado a apresentar as suas demissões de associados da Sociedade Portuguesa de Escritores.
Gente menor, obviamente,
Alguém conhece Maria do Carvalhal?
Mas em “A Voz” de 23 de Maio de 1965 lia-se esta notícia:
“A escritora D. Maria do Carvalhal (D. Maria dos Prazeres Carvalhal), ao tomar conhecimento dos motivos por que foi mandada encerrar a sede da Sociedade Portuguesa de Escritores, pediu telegraficamente a sua demissão de sócio daquela colectividade.”
Do documento-protesto não consta o nome da escritora Agustina Bessa Luís.
José Gomes Ferreira no III volume dos “Dias Comuns” dá-nos uma pista:
«Quando da dissolução da Sociedade Portuguesa de Escritores, a Sophia de Mello Breyner pediu-lhe a assinatura para o natural protesto dos escritores.
Como já se calculava, a Agustina Bessa Luís recusou. Com uma carta modelar de quem queria fingir que não recusava.
A Sophia leu-ma. E não resisti a dizer-lhe (ou a pensar que lhe dizia):
-Mande-a encaixilhar e pôr na parede. É um auto-retrato triste de quem não quer ter perfil.»
Exmo Senhor Ministro da Educação Nacional
Contra a extinção da Sociedade Portuguesa de Escritores e contra a campanha de descrédito que pretende desvirtuar a independência e a isenção dessa Sociedade, os escritores abaixo assinados vêm solenemente protestar perante V. Exa. E declarar que são inteiramente solidários com o comportamento digníssimo assumido pela Direcção da Sociedade e com o júri escolhido pela unanimidade dos corpos gerentes eleitos em 1965, que de acordo com os estatutos e a tendendo a um critério meramente estético, concedeu o Grande Prémio de Novelística de 1964 ao livro “Luuanda”. Tal critério meramente estético foi, de resto, o que informou outros júris na atribuição de prémios a diversas obras do mesmo autor, e até ao livro “Luuanda”, agora galardoado pela Sociedade Portuguesa de Escritores.
Com efeito, já em 1961, 1962, 1963 e em 1964, textos de Luandino Vieira foram respectivamente premiados pela Sociedade Cultural de Angola (1º Prémio do Conto), pela Casa dos Estudantes do Império (1º Prémio João Dias) pela Associação dos Naturais de Angola – que neste momento tanto se insurge contra a atribuição do prémio de Novelística da Sociedade Portuguesa de Escritores, (1º e 2º Prémios de Conto) e, ainda há poucos meses, o 1º Prémio Mota Veiga. O facto destas instituições terem considerado exclusivamente o valor estético da Obra de Luandino Vieira e a circunstância muito significativa de o livro agora laureado pela Sociedade Portuguesa de Escritores ser exactamente o mesmo que em 1964 obteve, em Angola, o referido Prémio Mota Veiga, estando já condenado e preso o seu autor, reforçam sem dúvida a idêntica posição do júri do Grande Prémio de Novelística. Sendo assim, e dado que nunca foi levantado acerca daqueles prémios qualquer protesto relacionado com a conduta cívica de Luandino Vieira, nem extinta nenhuma das entidades que lhos concedeu, é licito presumir que a extinção da Sociedade Portuguesa de Escritores manifesta estar ela a ser vítima de medidas especiais de discriminação cultural.
Os signatários exprimem a sua veemente repulsa pelo atentado à liberdade do espírito patente na campanha tendenciosa empreendida contra a Sociedade Portuguesa de Escritores. Solicitam portanto a V. Exª a reabertura da mesma sociedade e a garantia de que os membros do júri não serão sujeitos a pressões de qualquer natureza. Parece-lhes também inteiramente justo e necessário que V. Exª mande proceder a um inquérito rigoroso sobre os desacatos praticados na sede da Sociedade Portuguesa de Escritores por um grupo de indivíduos que deverão ser responsabilizados pelos prejuízos materiais e morais resultantes da sua repugnante acção."
O documento está assinado por 161 escritores portugueses.
Dias antes, já os escritores-capachos-do-regime se tinham apressado a apresentar as suas demissões de associados da Sociedade Portuguesa de Escritores.
Gente menor, obviamente,
Alguém conhece Maria do Carvalhal?
Mas em “A Voz” de 23 de Maio de 1965 lia-se esta notícia:
“A escritora D. Maria do Carvalhal (D. Maria dos Prazeres Carvalhal), ao tomar conhecimento dos motivos por que foi mandada encerrar a sede da Sociedade Portuguesa de Escritores, pediu telegraficamente a sua demissão de sócio daquela colectividade.”
Do documento-protesto não consta o nome da escritora Agustina Bessa Luís.
José Gomes Ferreira no III volume dos “Dias Comuns” dá-nos uma pista:
«Quando da dissolução da Sociedade Portuguesa de Escritores, a Sophia de Mello Breyner pediu-lhe a assinatura para o natural protesto dos escritores.
Como já se calculava, a Agustina Bessa Luís recusou. Com uma carta modelar de quem queria fingir que não recusava.
A Sophia leu-ma. E não resisti a dizer-lhe (ou a pensar que lhe dizia):
-Mande-a encaixilhar e pôr na parede. É um auto-retrato triste de quem não quer ter perfil.»
Texto publicado
em 23 de Maio de 2010.
Sem comentários:
Enviar um comentário