De
muito novo comecei a ler Alves Redol e sempre gostei do que li.
Como hábito antigo, para além de ler as obras dos autores de que gosto, sempre me habituei a ler o que sobre esses autores está escrito.
Como hábito antigo, para além de ler as obras dos autores de que gosto, sempre me habituei a ler o que sobre esses autores está escrito.
No
caso de Redol, li o que Alexandre Pinheiro escreveu em Os Romances de Alves Redol, e no caso de A Barca dos Sete Lemes, que é o livro de hoje, recordo:
«A
Barca dos Sete Lemes é um belo título para um livro, mas aquele que mais estaria
de acordo com o seu conteúdo seria então: «A Arte de Transformar Um Homem do
Povo num Carrasco.»
Do
que li, há a conclusão de que Alves Redol era um homem de carácter, um homem ávido
de gente.
Ou
como escreveu José Gomes Ferreira::
«Senhores e senhoras: o segredo da Arte
de Redol resume-se nesta frase: amou verdadeiramente o povo.»
Carlos de
Oliveira deixou escrito em O Aprendiz de Feiticeiro:
«Quem fala do povo com a paixão obsidiante
de redol, a sua teimosia, os seus momentos de grandeza, incomoda e vive na
incomodidade. Isto explica, julgo eu, certos preconceitos políticos e
literários, certo musgo que a humidade circunstancial (às vezes sem querer, mas
outras de propósito) tentou gerar em torno de uma obra notável sob vários
aspectos: autenticidade, fôlego, importância histórico-literária.
José Cardoso
Pires estava em Londres quando Redol morreu:
«Esta
manhã chegou-me o telegrama da Edite. Morreu o Redol. Fiquei diante da janela
do quarto, a olhar, ou a não olhar, sei lá, o pátio coberto de neve - e tudo
branco, tudo puro, o nada, e a notícia ali na minha mão a dizer-me que
tínhamos' perdido o nosso velho António, o nosso querido e paciente amigo.
Não adianta, bem sei, desabafar-se
assim. Mas na morte de qualquer escritor português digno há sempre um remorso
do tempo, sempre. Há um outro cancro que vem detrás e que é a injustiça e o
suportar em silêncio. E esse mal, quando não vence uma verdade interior, mata
primeiro do que o vírus decretado pelas certidões de óbito.
As vezes que falámos nisto, eu e o
Redol. Ainda há pouco, numa carta em que se despedia de mim para sempre, lá
vinha esta verificação magoada e terrivelmente simples: «Sou um dos que vai
morrer na incomunicabilidade com o seu tempo».
Grande parte
da sua obra, redol escreveu-a durante as horas dos seus frugais almoços ou
durante as viagens de comboio entre Vila Franca de Xira e Lisboa.
Mário Dionísio
chamou-lhe um operário das letras e José Carlos Ary dos Santos
deixou este magnífico retrato:
Porém
se por alguém não foi ninguém
cantou e disse flor canção amigo
a si o deve. A si e mais a quem
floriu cresceu cantou lutou consigo.
Homem que vive só não vive bem
morto que morre só é negativo
morrer é separar-se de ninguém
e contudo com todos ficar vivo.
Nado-vivo da morte. É isso. É isso.
Uma espécie de forno de bigorna
de corpo imorredoiro que transforma
em fusão o metal do compromisso:
Forjar o conteúdo pela forma:
marrar até morrer. E dar por isso.
cantou e disse flor canção amigo
a si o deve. A si e mais a quem
floriu cresceu cantou lutou consigo.
Homem que vive só não vive bem
morto que morre só é negativo
morrer é separar-se de ninguém
e contudo com todos ficar vivo.
Nado-vivo da morte. É isso. É isso.
Uma espécie de forno de bigorna
de corpo imorredoiro que transforma
em fusão o metal do compromisso:
Forjar o conteúdo pela forma:
marrar até morrer. E dar por isso.
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