domingo, 5 de julho de 2020

ANTOLOGIA DO CAIS


Para assinalar os 10 anos do CAIS DO OLHAR, os fins-de-semana estão guardados para lembrar alguns textos que por aqui foram sendo publicados.

UM LIVRO CONSIDERADO IMORAL

Diário de Lisboa de 2 de Junho de 1969, noticiava que, nessa mesma tarde, começava, no Plenário Criminal da Boa Hora, o julgamento dos escritores envolvidos na publicação da Antologia de Poesia Portuguesa Erótica e Satírica: Natália Correia, Mário Cesariny de Vasconcelos, Luiz Pacheco e José Carlos Ary dos Santos eram acusados de «abuso de liberdade de imprensa.».

Também figuravam como presumíveis delinquentes, o editor Fernando Ribeiro de Melo, o empregado de escritório Francisco Marques Esteves e o técnico têxtil Ernesto Geraldes de Melo e Castro.

Segundo a acusação «algumas das poesias ou parte delas ofendem o pudor geral, a decência, a moralidade pública e os bons costumes.»

Como patronos dos acusados encontravam-se João da Palma Carlos, Vera Jardim, Salgado Zenha e António de Sousa.

Eram inúmeras as testemunhas de defesa.

O julgamento só aconteceria em Março de 1970.

E, segundo o Diário de Lisboa, de 21 de Março, os réus, excepto Francisco Marques Esteves que foi absolvido, foram condenados a 45 dias de prisão substituíveis por multa a 40 escudos diários.

E Luiz Pacheco volta a ser notícia:


«Dado a sua precária situação económica o tribunal dispensou Luiz Pacheco do pagamento da multa diária.»

No final do julgamento, o juiz Fernando António Morgado Filipe, mandou que fossem destruídos todos os exemplares da Antologia da Poesia Erótica e Satírica.

A poesia ofendia o pudor, a decência, a moralidade pública e os bons costumes.

Mas quem assim pensava não se coibia de perseguir, torturar e assassinar cidadãos que lutavam pela Liberdade ou enviar para a guerra colonial a juventude de toda uma geração.

Um Portugal governado por um velho atroz, cercado por serviçais – que não eram assim tão poucos! - verdadeiramente desumanos, incultos e crentes abnegados numa senhora que um dia. por Fátima. «apareceu» a três pastorinhos.

Texto publicado em 17 de Fevereiro de 2017

2 comentários:

Seve disse...

Esta(s) Antologia(s) é preciosa!

Sammy, o paquete disse...

Obrigado pelas palavras.
Tenho vários, alguns vastos, dossiers sobre muitos temas e figuras. Uma das minhas primeiras intenções para o blogue, era divulgar esses dossiers, mas, como no filme, perdi-me na tradução. Não tenho certezas mas gostava de voltar a esse caminho.