segunda-feira, 20 de julho de 2020

OLHAR AS CAPAS


Comunicado ou Intervenção da Província

Luiz Pacheco
Capa e «hors-texte»: Ferreira da Silva
Edições Contraponto, Caldas da Raínha, 1966.

O Cesariny é o Poeta do Corpo e toda a cidade queimada o manifesta toda a sua poesia desde Corpo Visível o revela, glosa esse tema inalterável, com uma sinceridade e uma violência que no-la afirmam muito mais do que um simples inventado exercício de ritmos e rimas, aliás superiormente dotado e laborado, mas com uma revolta do sangue, a voz de uma pessoa indomada e indomável. Direi também: um orgulho e um desafiop ao Tempo, principalmente ao nosso tempo.
Porque NÂO VOS ESQUEÇAIS! estamos enterrados desde há perto de dois mil anos numa civilização, a nossa por nosso azar, que despreza o corpo, o castiga com torpezas várias, trabalhos inúteis, o crucifica à martelada sendo precisos, o consome estupidamente fora e abaixo das suas próprias funções e beleza – até à chegada infalível do cangalheiro.
ÓDIO AO CORPO!
É o que eles ensinam e comandam desde os bancos de escola.
AMOR AO CORPO!
É o que o poeta quer e recomenda e pratica, mesmo no fundo cárcere, até nos silêncios entre as suas palavras.
Ora já me parece que vai sendo altura de perdermos a timidez ou a vergonha    O MEDO    e fazendo muitas figas e TOMAS! aos  carrascos do corpo e aos apressados coveiros que nos rodeiam, usarmos o nosso corpo e o alheio a bel-prazer, e conforme melhor nos apeteça. Não proponho a luxúria, que é a desordem dos sentidos, mas a libertação do medo, Seguirmos as lições de SADE, a estratégia de LACLOS, o à-vontadinha de MILLER, os requintados pas-de qautre do DURREL PORQUE ALEXANDRIA ESTÁ ONDE NóS QUISERMOS!
e tanto e tão fácil na velha Baixa pombalina, como por aqui no Parque das Caldas, ou nessa pacata Rua Dona Estefânea, onde nasci. Basta querermos… mas nada de exibicionismos, cuidado muito cuidado, que a BASTILHA DA PÊJOTA é numa esquina aí perto… e os seus calabouços, pelo que vi, têm má ventilação.

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