Comunicado
ou Intervenção da Província
Luiz
Pacheco
Capa
e «hors-texte»: Ferreira da Silva
Edições
Contraponto, Caldas da Raínha, 1966.
O
Cesariny é o Poeta do Corpo e toda a cidade queimada o manifesta toda a sua
poesia desde Corpo Visível o revela, glosa esse tema inalterável, com uma
sinceridade e uma violência que no-la afirmam muito mais do que um simples
inventado exercício de ritmos e rimas, aliás superiormente dotado e laborado,
mas com uma revolta do sangue, a voz de uma pessoa indomada e indomável. Direi
também: um orgulho e um desafiop ao Tempo, principalmente ao nosso tempo.
Porque
NÂO VOS ESQUEÇAIS! estamos enterrados desde há perto de dois mil anos numa
civilização, a nossa por nosso azar, que despreza o corpo, o castiga com
torpezas várias, trabalhos inúteis, o crucifica à martelada sendo precisos, o
consome estupidamente fora e abaixo das suas próprias funções e beleza – até à
chegada infalível do cangalheiro.
ÓDIO
AO CORPO!
É
o que eles ensinam e comandam desde os bancos de escola.
AMOR
AO CORPO!
É
o que o poeta quer e recomenda e pratica, mesmo no fundo cárcere, até nos
silêncios entre as suas palavras.
Ora
já me parece que vai sendo altura de perdermos a timidez ou a vergonha O MEDO
e fazendo muitas figas e TOMAS! aos carrascos do corpo e aos apressados coveiros
que nos rodeiam, usarmos o nosso corpo e o alheio a bel-prazer, e conforme
melhor nos apeteça. Não proponho a luxúria, que é a desordem dos sentidos, mas
a libertação do medo, Seguirmos as lições de SADE, a estratégia de LACLOS, o
à-vontadinha de MILLER, os requintados pas-de qautre do DURREL PORQUE
ALEXANDRIA ESTÁ ONDE NóS QUISERMOS!
e
tanto e tão fácil na velha Baixa pombalina, como por aqui no Parque das Caldas,
ou nessa pacata Rua Dona Estefânea, onde nasci. Basta querermos… mas nada de
exibicionismos, cuidado muito cuidado, que a BASTILHA DA PÊJOTA é numa esquina
aí perto… e os seus calabouços, pelo que vi, têm má ventilação.
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