Se
a denúncia que motivou a rusga não falava de haxixe, aludia abertamente a
cocaína. A Guàrdia Civil chega depois do pôr-do-sol e desembesta casa dentro com
animosidade semelhante àquela com que os primeiros maiorquinos lançavam
saraivadas de pedras sobre os botes estrangeiros que ousavam aproximar-se da
costa. A festa foi interrompida (decorria, claro, uma festa). Na pista
improvisada do jardim, os pares dançam ao som de If I Had You. Al Bowlly contagia a noite, irradiando swing e frases de amor
espirituosas, sobrepondo-se ao retinir dos cálices e às gargalhadas que
concorrem com o rodopiar dos corpos. Quando a voz do crooner é amordaçada sem
aviso, ninguém entende a razão da afasia ou dá sequer pela presença da Guàrdia,
excepto a anfitriã que, tentando fazer valer os seus privilégios de viúva
americana e milionária, desfere em espanhol o seu último argumento:«Usted no
sabe quén soy yo?»
Ana
Cristina Leonardo em O Centro do Mundo
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