Para assinalar os 10
anos do CAIS DO OLHAR, os fins-de-semana estão guardados para lembrar
alguns textos que por aqui foram sendo publicados.
AMÁLIA CANTA LUÍS DE CAMÕES
Há uma Amália antes e depois de Alain Oulman.
Não sou dado a grandes conhecimentos da
matéria, mas se assim penso assim, escrevo.
Quando, em Outubro de 1965, Alain Oulman
musicou poemas de Camões para a voz de Amália, Amália Canta Camões, os intelectuais tiveram reacções diversas.
José Gomes Ferreira não concordou e respondeu assim ao Diário Popular:
José Gomes Ferreira não concordou e respondeu assim ao Diário Popular:
«Não estou disposto a ouvir. Não quero
ouvir. Mas acho mal. Existem obras-primas da música portuguesa, como por
exemplo, “Os Madrigais”, de Luís de Freitas Branco, inspiradas em poesias de
Camões. Claro que também existiu a Engraxadoria Camões. Para cada um - seu
paladar».
Se bem que tenha um número bem razoável de poemas seus musicados, José Gomes Ferreira nunca simpatizou com a ideia.
Se bem que tenha um número bem razoável de poemas seus musicados, José Gomes Ferreira nunca simpatizou com a ideia.
A excepção é o trabalho com Fernando
Lopes Graça.
A tal ponto que, em 28 de Setembro de
1970, enviou à Sociedade de Escritores e Compositores Teatrais a seguinte
carta:
«De regresso de férias, encontrei a
vossa carta de 21 de Setembro de 1970 a que me apresso a responder, com os meus
melhores cumprimentos.
O pedido de autorização ao sr. José
António Matildes para musicar o meu poema de Poesia III, “Ó pinheiro
verdadeiro” honra-me muito, mas infelizmente não posso conceder-lha por motivo
de “princípios estéticos” pois discordo inteiramente da chamada música ligeira
quando adaptada aos meus versos, escritos sem essa intenção.
Claro que esta recusa nada tem de
pessoal. Peço-lhe até que explique ao Sr. José António Matildes que as canções
e as baladas aparecidas recentemente na rádio e em discos com versos meus são
todas clandestinas, feitas sem a minha autorização. Ao Sr. José António
Matildes devo, pelo menos, essa delicadeza que muito me sensibilizou.
Em resumo: incito-o a fazer a música que
lhe apetecer sem me pedir licença!»
Em contraste, é interessante ir buscar o
exemplo de António Gedeão que, nas suas Memórias, escreve que muito deve a Manuel Freire e às músicas que fez para poemas seus:
«Suponho
que foi pela sua actuação que a minha poesia conseguiu tão grande êxito
generalizado.»
Texto publicado em 30 de Março de 2019
Texto publicado em 30 de Março de 2019
Sem comentários:
Enviar um comentário