Juntam-se na praça ao domingo pela manhã e ali ficam durante algumas horas. Falam baixinho, como quem não quer incomodar nem sequer as pedras. Têm uma linguagem incompreensível, em que de vez em quando parece aflorar uma palavra conhecida, que logo se perde numa cascata dispersa de sons raros. Em todo o circuito da praça, as lojas mostram as portas fechadas e a estátua que está no meio, aquela que representa o poeta, parece uma ruína morta, alheia aos homens que a rodeiam. Estes vestem quase todos de escuro. Alguns são belos. Altos, delgados, têm feições finas e melancólicas. Outros parecem contrafeitos, torcidos como plantas do deserto que muito tivessem procurado a água.
José Saramago em A Bagagem do Viajante
Legenda. Fotografia de Robert Doisneau.
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