No dia 22 de Dezembro de 1995, José Saramago no 5º vol. dos seus Cadernos de Lanzarote escreve um entrada sobre Fernando Assis Pacheco:
Carmélia, que veio com a mãe passar as festas connosco, trouxe-nos o último número do Jornal de Letras, dedicado em parte, a Fernando Assis Pacheco. Leio poemas dele que lá vêm, inéditos, e irresistivelmente penso que Tolentino, se vivesse neste tempo, teria por força de ser assim. Espero que se encontrem muitos mais inéditos como estes nos papéis que o Assis Pacheco deixou: há obras tão fecundas que continuam a crescer depois da morte do seu autor. Veja-se este soneto, por exemplo, que só agora foi escrito:
O corpo mal talhado em cujo abdómen
cresceu um aneurisma durante anosque por fim o condena à cirurgia
vascular de emergência transportado
com terror de sirenes por dois homens
de bata branca amáveis que procuramtocar prà frente a dura traquitana
vai ver sr. Pacheco é só um susto
chega a Santa Maria gracejando
mas à vista da sala fica mudoonde o afeitam já sumariamente
vinte minutos mais e o ascensor
leva o pobre do corpo até à faca
não pensa noutra coisa: o seu enterro
José Saramago, aquando da morte de Fernando Assis Pacheco, escrevera:
Morreu o Fernando Assis Pacheco. A notícia abalou-me profundamente. Não éramos o que se chama amigos, mas havia entre nós relações muito cordiais, de simpatia e respeito mútuos. Morreu daquele coração que desde há anos o vinha ameaçando. Morreu numa livraria, provavelmente, o lugar que ele próprio teria escolhido quando tivesse de sair da vida.
Legenda: fotografia da revista Ler, Círculo de Leitores
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