Não sei guardar o silêncio; é o meu mal.
E o certo é que só o silêncio me ajuda. Fico senhor de mim, seguro de mim,
Devo-o – quem sabe? – a alguma faculdade protectora.
Que, para me ajudar, me tapa a boca.
Mas se lá fora, e sempre, ganhei o hábito de falar comigo, de dia e de noite, da noite para o dia…
O que vou eu fazer se me calar? Não tenho engenhos, não (em criança, aprendi tudo; homem, tudo desaprendi) – o que vou eu fazer se não tentar estabelecer os fios duma ponte invisível. Por onde caio, de onde caio. Mas levanto-me e salvo-me. Se me calar, estou morto.
Raul de Carvalho em Um e o Mesmo Livro, Editorial Presença, Lisboa 1984.
Legenda: quadro de Balthus
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