Corriam os primeiros tempos pós 25 de Abril, quando mentes social-democratas, capitaneadas por Mário Soares, entenderam que a união dos trabalhadores era um perigo para a democracia.
A unicidade sindical, essa coisa de gente totalitária, diziam eles, abafava a vontade dos trabalhadores.
Num comício realizado, em Lisboa, no Pavilhão dos Desportos, Salgado Zenha tornou-se paladino dessa luta e, mais tarde, alguém há-de dizer que, a todo o custo é preciso quebrar a espinha à Intersindical.
Para que isso acontecesse, dinheiros vindos dos states, permitiam o surgimento do movimento Carta Aberta que haveria de desaguar na constituição da UGT.
Para a triste história, ficaram os muitos acordos de concertação social que a UGT, firmou com patronato e governos. Ainda hoje o faz…
Na imprensa da época podem encontrar-se fotografias do líder ugetetiano, Torres Couto, brindando com o então primeiro-ministro Cavaco Silva, essas assinaturas ao sabor de calicezinhos de Vinho do Porto.
Os trabalhadores sentem hoje na pele, ao que conduziram essas concertações.
A propósito das próximas eleições para secretário geral da UGT, e à boleia de Bruno Carvalho, do blogue 5 dias, fico a saber que Carlos Silva se perfila para o lugar, e trabalhador que é, deu conta do propósito ao seu patrão, o banqueiro Ricardo Salgado:
Como sabe, eu sou bancário, do BES, que é quem paga o meu salário – o único que tenho e que faço questão de manter. Por isso, antes de formalizar a candidatura, fiz questão de ter uma reunião com o doutor Ricardo Salgado, a quem transmiti, de forma transparente, a minha intenção. Naturalmente que ele, enquanto presidente da comissão executiva do BES, desejou-me sorte e disse que era também um factor de prestígio para o BES ter um dos seus colaboradores como secretário-geral da UGT.
A falta de vergonha conduz ao inexplicável.
Possivelmente, ainda o Carlos Silva não era um sorriso na cara dos seus pais, já trabalhadores bancários – e não só! – lutavam contra os banqueiros do tempo da ditadura.
Como estas, buscadas ao acaso, noticiadas, respectivamente pelo República de 27 de Julho de 1971 e Diário de Lisboa de 29 de Julho do mesmo ano.
Lutas como esta, como tantas de outros trabalhadores, como as lutas estudantis, pauzinhos que o povo foi colocando na engrenagem, de Salazar/Caetano, abriram espaço para que um certo 25 de Abril fosse diferente de todos.
Hoje, em pleno estado-dito-democrático, estamos envolvidos numa outra luta: a da sobrevivência.
Houve aqui alguém que se enganou.
Legenda: o recorte da entrevista de Carlos Silva ao Notícias da Beira, é tirada do 5 Dias.
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