Série de nove "fascículos de poesia"
publicados no Porto, entre 1957 e 1961, sob a direção de Egito Gonçalves, Daniel
Filipe, Papiniano Carlos, Luís Veiga Leitão, Ernâni Melo Viana e António
Rebordão Navarro. Incluíam poesia empenhada, que se insurgia contra o mundo
circundante (a violência, a injustiça, a falta de liberdade) e afirmava o valor
da solidariedade com o próximo.
A designação da revista, retirada do título de um poema de Egito Gonçalves,
publicado no 4.° fascículo de Árvore, remete para um programa de poesia de
resistência, aludindo metaforicamente ao cerco a que estavam submetidos os
intelectuais portugueses.
Sem apresentar texto programático, nem textos de crítica ou teoria poética, a publicação reúne criação poética de autores com opções estéticas diversas (além da direção, Jorge de Sena, Casais Monteiro, Miguel Torga, Afonso Duarte, António José Fernandes, Vasco Costa Marques, Mário Henrique Leiria, Maria Almira Medina, João Ribeiro Melo, Orlando da Costa, José Fernandes Fafe, António Reis, Daniel Filipe, Joaquim Namorado, João Rui de Sousa, Alexandre O'Neill, Mário Dionísio, Armindo Rodrigues, José Augusto Seabra, Pedro Alvim, Maria Teresa Rita, Gastão Cruz), mas que colaboram sistematicamente com composições subordinadas a um intuito de denúncia e combate. Cada fascículo incluía, ainda, nas últimas páginas, tradução de poetas estrangeiros (Brecht, Guillevic, Stephan Hermlin, Jorge Carreara Andrade, Jean Todrani, Nicolau Vaptzarov). Os fascículos 6 e 8 são dedicados a poetas moçambicanos e angolanos.
Sem apresentar texto programático, nem textos de crítica ou teoria poética, a publicação reúne criação poética de autores com opções estéticas diversas (além da direção, Jorge de Sena, Casais Monteiro, Miguel Torga, Afonso Duarte, António José Fernandes, Vasco Costa Marques, Mário Henrique Leiria, Maria Almira Medina, João Ribeiro Melo, Orlando da Costa, José Fernandes Fafe, António Reis, Daniel Filipe, Joaquim Namorado, João Rui de Sousa, Alexandre O'Neill, Mário Dionísio, Armindo Rodrigues, José Augusto Seabra, Pedro Alvim, Maria Teresa Rita, Gastão Cruz), mas que colaboram sistematicamente com composições subordinadas a um intuito de denúncia e combate. Cada fascículo incluía, ainda, nas últimas páginas, tradução de poetas estrangeiros (Brecht, Guillevic, Stephan Hermlin, Jorge Carreara Andrade, Jean Todrani, Nicolau Vaptzarov). Os fascículos 6 e 8 são dedicados a poetas moçambicanos e angolanos.
Da Infopédia,
Porto Editora
Este é o poema Notícias
do Bloqueio de Egito Gonçalves, do livro A Viagem com o Teu Rosto
(1958) e reunido em Os Arquivos do Silêncio:
NOTÍCIAS DO BLOQUEIO
Notícias do Bloqueio
Aproveito a tua neutralidade,
o teu rosto oval, a tua beleza clara,
para enviar notícias do bloqueio
aos que no continente esperam ansiosos.
Tu lhes dirás do coração o que sofremos
nos dias que embranquecem os cabelos...
tu lhes dirás a comoção e as palavras
que prendemos - contrabando - aos teus cabelos.
Tu lhes dirás o nosso ódio construído,
sustentando a defesa à nossa volta
- único acolchoado para a noite
florescida de fome e de tristezas.
Tua neutralidade passará
por sobre a barreira alfandegária
e a tua mala levará fotografias,
um mapa, duas cartas, uma lágrima...
Dirás como trabalhamos em silêncio,
como comemos silêncio, bebemos
silêncio, nadamos e morremos
feridos de silêncio duro e violento.
Vai pois e noticia com um archote
aos que encontrares de fora das muralhas
o mundo em que nos vemos, poesia
massacrada e medos à ilharga.
Vai pois e conta nos jornais diários
ou escreve com ácido nas paredes
o que viste, o que sabes, o que eu disse
entre dois bombardeamentos já esperados.
Mas diz-lhes que se mantém indevassável
o segredo das torres que nos erguem,
e suspensa delas uma flor em lume
grita o seu nome incandescente e puro.
Diz-lhes que se resiste na cidade
desfigurada por feridas de granadas
e enquanto a água e os víveres escasseiam
aumenta a raiva
e a esperança reproduz-se
o teu rosto oval, a tua beleza clara,
para enviar notícias do bloqueio
aos que no continente esperam ansiosos.
Tu lhes dirás do coração o que sofremos
nos dias que embranquecem os cabelos...
tu lhes dirás a comoção e as palavras
que prendemos - contrabando - aos teus cabelos.
Tu lhes dirás o nosso ódio construído,
sustentando a defesa à nossa volta
- único acolchoado para a noite
florescida de fome e de tristezas.
Tua neutralidade passará
por sobre a barreira alfandegária
e a tua mala levará fotografias,
um mapa, duas cartas, uma lágrima...
Dirás como trabalhamos em silêncio,
como comemos silêncio, bebemos
silêncio, nadamos e morremos
feridos de silêncio duro e violento.
Vai pois e noticia com um archote
aos que encontrares de fora das muralhas
o mundo em que nos vemos, poesia
massacrada e medos à ilharga.
Vai pois e conta nos jornais diários
ou escreve com ácido nas paredes
o que viste, o que sabes, o que eu disse
entre dois bombardeamentos já esperados.
Mas diz-lhes que se mantém indevassável
o segredo das torres que nos erguem,
e suspensa delas uma flor em lume
grita o seu nome incandescente e puro.
Diz-lhes que se resiste na cidade
desfigurada por feridas de granadas
e enquanto a água e os víveres escasseiam
aumenta a raiva
e a esperança reproduz-se
Esta é a canção Let My People Go cantada por Paul Robeson e referida no poema de Noémia de Sousa Deixa Passar o Meu povo
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