sexta-feira, 17 de abril de 2015

CONTRATO VINCULATIVO


Era lá que o Roy todas as noites, presenteava o público com a sua delirante versão de stand-up comedy. Nessa noite o Roy tinha cozinhado uma refeição enorme: borrego assado, pudim de Yorkshire e ainda crumble de maçã e creme de ovos.
- Isto é crene de ovos a sério? – perguntei-lhe eu.
- Claro que sim.
- Não é nada, compraste-o enlatado.
- Fui eu que o fiz, meu anormal! Vem em pó num pacote e eu é que juntei o leite.
Tivemos uma discussão exaltada e lembro-me de lhe ter atirado com um copo do outro lado da mesa.
Com os meus melhores amigos, aqueles de longa data, tudo começa sempre do mesmo modo: assim que os conheço, sinto uma ligação instantânea. Consigo detectá-los num segundo; algo me diz que poderemos confiar um no outro. É um contrato vinculativo. O Roy é um deles, desde essa noite. Uma vez criado o laço, deixar ficar mal um amigo é para mim o pior dos pecados. Significa que não percebeste o verdadeiro sentido da amizade, da camaradagem, que são as coisas mais importantes do mundo.
Sem os meus amigos, eu não seria nada.


Keith Richards em Life

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