28 de Abril de
1975
NA COMPOSIÇÃO DA
Assembleia Constituinte os advogados estão em maioria.
Em 250 eleitos
há apenas 20 mulheres.
Em quatro
décadas de democracia que estão cumpridas desde 25 de Abril, encontramos 31mulheres
ministras e 467 homens, nenhuma mulher como presidente da República, apenas uma
candidata a presidente: Maria de Lurdes Pintasilgo nas eleições presidenciais
de 1986, sendo também a única mulher que chefiou um governo, nomeada, em 1979,
pelo Presidente Ramalho Eanes.
CRISTÓVÃO AGUIAR
EM Relação de Bordo:
As primeiras eleições livres de toda a minha vida!
Ficou o Partido Socialista à frente, com cerca de trinta e oito por cento de
votos expressos. Nunca tinha votado antes, que nunca me deixaram recensear nas
alturas em que havia eleições ou um arremedo delas. E se calhar valeu bem a
pena esperar tanto tempo por este dia em que o Povo Português foi votar em
plena liberdade e com uma alegria que afastava nuvens e outras sombras dos
rostos onde elas não há muito costumavam vir aninhar-se. Foi como se estivesse
toda a gente em festa tanto pelo direito como pelo avesso.
VERGÍLIO
FERREIRA NO 1º Volume da sua Conta-Corrente:
Dia 25 houve eleições. Noventa por cento do País foi
às urnas. Só dez por cento votou em branco, ou seja o que as tropas
aconselhavam para demonstrarem, como Salazar, a nossa incapacidade política.
Mas o povo sabia o que queria. E disse-o. Vagas de gente à porta das
assembleias. Duas horas em pé e à espera, foi a minha ração. Notabilidades na
minha bicha, o Rosa Coutinho. Mas também tive um jornalista a questionar-me…
Resultado: vitória dos socialistas, ou seja do slogan «socialismo sim, ditadura
não». Somos um país pacífico, vagamente preguiçoso, chateia-nos uma ordem de
caserna como a que nos imporia o comunismo. Revelado este como pobre minoria. O
activismo, a ousadia, a ameaça davam este na aparência como uma força
maioritária. Não era. Estava tudo na primeira linha e imaginava-se que havia
outras linhas atrás. Clamor agora de vencidos: «A esquerda triunfou.» Pois. Mas
não a deles. E agora?
MIGUEL TORGA NO
seu Diário:
Eleições sérias, finalmente. E foi nestes cinquenta
anos de exílio na pátria a maior consolação cívica que tive. Era comovedor ver
a convicção, a compostura, o aprumo, a dignidade assumida pela multidão de
eleitores a caminhar para as urnas, cada qual compenetrado de ser portador de
uma riqueza preciosa e vulnerável: o seu voto, a sua opinião, a sua
determinação. Parecia um povo transfigurado, ao mesmo tempo consciente da transcendência
do acto que ia praticar e ciente da ambiguidade circunstancial que o permitia.
O que faz o aceno da liberdade, e como é angustioso o risco de a perder! Assim
os nossos corifeus saibam tirar do facto as devidas conclusões. Mas duvido.
Nunca aqui os dirigentes respeitaram a vontade popular, mesmo quando aparentam promove-la.
No fundo, não querem governar uma sociedade de homens livres, mas uma sociedade
de cúmplices que não desminta a degradação deles.
Fontes:
- Acervo
pessoal;
- Os Dias
Loucos do PREC de Adelino
Gomes e José Pedro Castanheira.
- Relação deBordo – Cristóvão de Aguiar.
- Conta-Corrente de Vergílio Ferreira.
- Diário
de Miguel Torga.
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