Despeço-me da Terra da Alegria
Ruy Belo
Prefácio: João
Miguel Fernandes Jorge
Capa: F.C.
Colecção Forma
nº 10
Editorial
Presença, Lisboa, 1978
Despeço-me da
Terra da Alegria
Os pássaros da noite povoavam
as tílias desta
minha solidão
O juízo severo dos seus olhos
O juízo severo dos seus olhos
de olhar onde cabia o pensamento
a luz e a sombra de uma geração
precariamente iluminavam uma alma
que punha a salvação no mais profundo sono
Um castanheiro filho descuidado do meio-dia
Um castanheiro filho descuidado do meio-dia
de uma ramagem lenta e ondulante
sorria com sorrisos litorais
em um jardim em flor do meu desejo
Homenageio aquela primavera
Homenageio aquela primavera
primeira primavera da amizade.
Tudo era pensamento para ele mesmo até
Tudo era pensamento para ele mesmo até
caminhos que não levam a qualquer
parte sabida ou sequer desconhecida.
Belo país da arte eu te saúdo
Belo país da arte eu te saúdo
as imagens levantam-se no ar
e um mundo litúrgico somente imaginado repovoa
as sendas dos amantes verdadeiros
onde as palavras só vinham depois
Põe só a tua mão perto de mim sob os
Põe só a tua mão perto de mim sob os
lobos de pedra em cada capitel
Oceanos de olvido na memória
Oceanos de olvido na memória
esse país longínquo donde venho
nuvem de vida sobre a minha morte
Apaga o tempo de uma má reputação
Apaga o tempo de uma má reputação
anos de inquietação, de espanto, de vergonha
estrela da minha infância ergue-te de novo
tu que eras para mim o sol a lua
deslumbrante, manhã da existência
(excerto)
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