O Caçador do Nada
Pedro Alvim
Capa: José Luís
da Conceição
Predo Editora,
Lisboa Maio de 1972
Ia muito quieto. Ia muito quieto aquele senhor.
«Dormita» - pensou a senhora gorda que se sentou no
mesmo banco.
O menino, que se sentou depois da senhora gorda,
fungou por não ir junto da janela, a ver, com olhos grandes as coisas da rua.
«E este velhote a dormir com a cara no vidro!» - dizia
o menino de si para si.
Amarelo, tilintado, o eléctrico foi-se aproximando do
términus. Agora unicamente seguia o senhor adormecido. Fim da linha.
Acorda-o, Zé – disse o guarda-freio ao condutor.
… E veio a ambulância. O corpo foi retirado do
eléctrico. Quieto. Com um bilhete de dez tostões entre os dedos da mão
esquerda.
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