27 de Abril de
1975
OS JORNAIS
continuam a dar relevo aos resultados das eleições para a Assembleia
Constituinte.
Hoje, sabe-se
que não mais voltou a existir um grupo de deputados, de todos os partidos, como
aquele que foi eleito.
Quer política
quer culturalmente.
Citado de Os Dias Loucos do PREC
Nas páginas de cobertura do acto eleitoral o Popular conta a história de uma senhora
de 78 anos, que se apresentou no local da votação «a tremer e as lágrimas a
rebentarem nos olhos, implorando que a ajudassem.» Obtida a concordância dos
seus colegas, o presidente da mesa aproximou-se dela e ajudou-a a fazer um
risco no voto («estava provado à evidência, que aquele não seria um acto político
consciente», daí a opção pelo voto nulo).
À saída, o repórter fala com a cidadã. Fica a saber
que é moradora na Rua do Arco Carvalhão, «onde proliferam barracas». E que vive
«de uma esmola da Misericórdia».
- Veio votar porquê?, pergunta o jornalista.
-Porque tinha medo que me retirassem a esmola.
O repórter vê, no episódio, «uma marca indelével do
fascismo». E também o «preço de uma aprendizagem política» a haver.
NATÁLIA CORREIA,
no seu livro Não Percas a Rosa:
À medida que a televisão transmitia imagens do cerco repugnante dos repórteres aos eleitores
rústicos que se avizinhavam das assembleias de voto, a certo regista:
Interpelando uma idosa mulher do campo, um dos
garanhões da reportagem destinada a vexar a consciência cívica das populações
rurais, lançou-lhe este desafio:
- A senhora sabe o que é uma Assembleia Constituinte?
A velha estacou para o medir com um olhar desprezível e ripostou-lhe numa ironia embaraçante:
A velha estacou para o medir com um olhar desprezível e ripostou-lhe numa ironia embaraçante:
- E vossemecê sabe o que é um almude?
DOMINIQUE
POUCHIN à conversa com Mário Soares:
Um ano. Dia após
dia, a seguir à sublevação libertadora dos capitães, Portugal elegeu os
deputados à Assembleia Constituinte: eis chegada a hora que Você tanto
esperava, certo de que seria a desforra. À noite, nos salões da Fundação
Gulbenkian – onde mil jornalistas de toda a parte do mundo ouviam os resultados
sem surpresa -, saboreava a sua vitória e o fracasso dos comunistas. Em
privado, Você não deixaria de notar que este segundo 25 de Abril seria um duro
golpe para aqueles que fizeram o primeiro.
Fontes:
- Acervo pessoal;
- Os Dias
Loucos do PREC de Adelino Gomes e José Pedro Castanheira.
- Não Percas a Rosa de Natália Correia
- Portugal: Que Revolução? de Mário Soares e Dominique Pouchin,
Perspectivas & Realidades Editores, Abril de 1976.
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