23 de Abril de
1975
A POPULAÇÃO da
Azambuja decide ocupar uma herdade, entre Alcoentre e Rio Maior, pertencente ao
Duque de Lafões, que irá dar origem à Cooperativa Agrícola Torre Bela.
Os camponeses
optaram por não pedir o apoio do Partido Comunista Português, que vinha sendo
procedimento corrente, optando por pedir ajuda à LUAR. A ocupação foi, então,
dirigida por Camilo Mortágua e ficou registada num documentário realizado porThomas Harlan.
O NÚNCIO
APOSTÓLICO, em nome da Santa Sé, e o ministro Melo Antunes, em representação do
Governo português, assinaram esta manhã os instrumentos de ratificação do
Protocolo Adicional à Concordata, que possibilita o divórcio aos cidadãos casados
pela Igreja.
NUM DOS COMÍCIOS
eleitorais do Partido Socialista, Mário Soares clarificou:
Não temos o projecto de copiar experiências alheias,
de introduzir em Portugal um socialismo à russa, à chinesa, à sueca ou à
cubana. Queremos um socialismo à portuguesa. Lutamos por um poder que pertença
de facto aos trabalhadores, e não aos burocratas que falam em nome dos
trabalhadores.
Os tempos vieram
a mostrar que o socialismo de Mário Soares era algo que podia ser acomodado,
pelos séculos dos séculos, no fundo de uma gaveta.
NESTE DIA,
Cristóvão Aguiar registava no seu livro Relação de Bordo:
Há poucos dias, durante a homilia da missa dominical
na igreja de uma freguesia rural das cercanias, o padre falou aos seus
paroquianos sobre as próximas eleições para a Assembleia Constituinte. Lançou
mão da parábola para melhor se fazer compreender e disse-lhes: - Meus caros
irmãos em Cristo: suponhamos que um de vós é dono de uma vaca leiteira; se
ganhar o socialismo, fica o irmão com a vaca, mas tem que dar o leite a esse
partido; se ganhar o comunismo, fica sem a vaca e sem o leite…
PALAVRAS DO Apontamento
de José Saramago no Diário de Notícias:
Por vários modos e meios têm chegado até nós sinais de
que o povo português enfrenta com alguma estes dias próximos, o das eleições e
os seguintes, indícios de que, brutalmente sacudido por uma campanha eleitoral
em muitos aspectos insensata, tende agora a fechar-se sobre si próprio. Há
mesmo quem diga que o povo tem medo, que, submergido pela vaga de boatos
alarmistas que varrem o País de lés a lés, prefere a passividade à acção
participante num processo revolucionário que, contraditoriamente, só graças a
ele rem prosseguido.
Admitamos que seja verdade quanto acima fica dito,
que, realmente, os eleitores hesitam em sair para a rua, em entrar nas filas de
espera das assembleias eleitorais e depositar o seu precioso (sim, preciosos)
voto na urna. Admitamos tudo isso e perguntemos: a quem interessa que o povo
tenha medo?
(…)
O medo está contra o povo? Pois então afirmemos, não
apenas por palavras, mas com todos os actos necessários que o povo está contra
o medo.
Fontes:
- Acervo
pessoal;
- Os Dias
Loucos do PREC de Adelino
Gomes e José Pedro Castanheira.
- Os Apontamentos – José Saramago
- Relação de Bordo – Cristóvão Aguiar.
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