9 de Abril de
1975
Miguel Torga
continua inconsolável com a Pátria.
As páginas do
seu Diário dão conta desse estado de alma.
Hoje, escreve:
Cansado. Não de lutar, mas de lutar contra fantasmas.
Cada português é um espantalho vestido de gente. Se uma pessoa lhe dá um tiro,
fura uma ficção.
Já anteontem,
escrevera:
Os estrebuchões que a pátria dá no hospital
revolucionário a que a reduziram! Necessitada de uma clarividente terapêutica
revitalizadora, ninguém esperava vê-la do pé para a mão transformada de norte a
sul num desesperado corpo convulsivo. Mas somos assim: ou tudo, ou nada. Ou
amodorrados numa sonolência de morte, ou possuídos de uma agitação frenética.
Os catalépticos, ou atacados da doença de S. Vito. O espectáculo que damos
neste momento ao mundo não é o de um povo que se esforça por actualizar ousada
e sensatamente a sua vida retrógada. É o de um manicómio territorial onde enfermeiros
improvisados e atrevidos submetem nove milhões de concidadãos a um
electrochoque aberrante e desumano.
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