22 de Abril de
1975
A campanha
eleitoral aproxima-se do seu fim.
Em discussão a
saída para que os não se sentem devidamente elucidados politicamente, recorram
ao voto em branco.
O título deste
dia, no Diário de Notícias, de Os Apontamentos de José Saramago é
o Branco em Discussão:
Este branco que se discute não é o vinho a que esse
nome damos, nem é já (felizmente) o português que por terras coloniais andava
como colonizador e opressor. O motivo da polémica que, em todos os tons, lavra
de Norte a Sul do País é o denominado voto em branco. Dizem uns (di-lo também a
Comissão Nacional das Eleições) que o voto em branco é a resposta cívica
daqueles eleitores que, conscientes do seu dever de votar, estão igualmente
conscientes de que o esclarecimento político colhido ao longo deste ano não
foi, afinal, tão claro como todos desejaríamos. Replicam outros que aconselhar
o voto em branco (naquele caso) é pouco menos que insultar o eleitor, e que os
365 dias decorridos foram bastantes e sobejantes para que um povo que nunca
exerceu a política se transformasse em perspicaz aferidor destes nada menos que
doze partidos concorrentes.
(…)
É preciso que fique esclarecido que o voto em branco
ou inutilizado com um traço também é voto. É voto que deve merecer tanto
respeito como aquele que se exprime firmemente por uma opção partidária. O voto
em branco é o voto de quem não sabe e o afirma. O voto em branco é uma forma de
protestar contra quarenta e oito anos de fascismo que, eles sim, são os
verdadeiros responsáveis por esta discussão tão pouco clara, em que se procura
pescar votos como em águas turvas se pescam peixes cegos…
GRAVES
INCIDENTES em comícios, ontem, realizados pelo CDS em Guimarães e no Porto. As
forças militares foram obrigadas a intervir para protecção dos apoiantes
democrata-cristãos. No comício de Guimarães, presidido pelo general Galvão de
Melo, houve troca de tiros de que resultaram vinte feridos.
Fontes:
- Acervo
pessoal;
- Os Dias
Loucos do PREC de Adelino
Gomes e José Pedro Castanheira.
- Os Apontamentos – José Saramago.
Legenda: cartaz de Vespeira
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