sexta-feira, 28 de janeiro de 2022

O ARREPIO DA ENCRUZILHADA


 «O que me enrugava a disposição era tão intraduzível como isto: a imagem do meu estúdio em Paris a dizer coisas indigestas: «Meu filho, meu filho, porque me abandonaste?» O estúdio vazio, com as marcas todas de espaço onde um homem vive só.

Tentei concentrar-me no meu aqui-agora, que era aquela estação terminus. Então ocorreu-me (inesperadamente) que uma estação terminus é sobretudo como um sino: pode repicar de casamento ou dobrar a finados.

Senti – concreta – a possibilidade de retomar viagem na direcção de todas as outras cidades do planeta. Seria isso o que me arrepanhava? O arrepio da encruzilhada quando um tipo se calha está perdido? Uns anos antes tinha sentidod coisa mesmo assim, em Istambul. Mas com direcção concreta, a dizer-me «vem daí»: por um triz de triz estivera para tomar o transiberiano Istambul-Pequim. Ao lá vai disto, a ver.»

Nuno Bragança em Square Tolstoi

Legenda: Estação ferroviária de Porta Nuova, Turim.

Nuno Bragança começa assim Square Tolstoi:  «O pressentimento de estar tropeçando no destino. Sabem como é?» 

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