De repente, ficou sem saber como sair do buraco em que se meteu.
Mark Twain costumava dizer que, quando
em dúvida, se deve dizer a verdade.
No seu belo livro, «Vidas Secas», Graciliano Ramos deixou escrito:
Lembrou-se de seu Tomás da bolandeira.
Dos homens do sertão o mais arrasado era seu Tomás da bolandeira. Porquê? Só se
era porque lia de mais. Êle, Fabiano, muitas vezes dissera: - “Seu Tomás,
vossemecê não regula. Para quê tanto papel? Quando a desgraça chegar, seu Tomás
se estrepa, igualzinho aos outros”.
Eugénio de Andrade num dos seus textos
poéticos:
«Se
há na terra um reino que nos seja familiar e ao mesmo tempo estranho, fechado
nos seus limites e simultaneamente sem fronteiras, esse reino é o da infância.
A esse país inocente, donde se é expulso sempre demasiado cedo, apenas se
regressa em momentos privilegiados.»
Mas como é possível, depois de milhões
de palavras lidas, vivências várias, ter de ir buscar uma conversa do avô
paterno, tida para aí nos finais dos anos 50, em que lhe dizia que odiava os
meses de Janeiro e Fevereiro?
«Acabam-se
as festas do Natal e ficamos nas sombras de dois meses de
tristeza-quase-trevas, restando-nos aguardar os primeiros salpicos da Primavera
que há-de chegar!».
De
uma maneira ou de outra, sempre conseguiu ultrapassar este sentimento
depressivo, mas os tempos desta quarentena sem fim à vista, já deixara mossas
nos anos anteriores, mas agora deixou-se afundar.
Decidiu que durante estes meses, velho
sonho, não pisaria uma pedra do Cais.
Tudo muito bonito se não tivesse
esquecido que isso mereceria uma palavra de aviso aos viajantes que por aqui
passam.
Ao terceiro dia de silêncio, olhou o estupor
do disparate em que se enredou e deixou de saber onde as pedras iam cair, tal
como canta o Tom Waits.
É por isso que este, é um texto de
vergonha: a sua vergonha.
Um texto que não sabe escrever –alguma vez
soube escrever o que quer que seja? - porque toda esta situação está envolta
num manto desastroso de disparates sem fim.
Sabe que nada, mas mesmo nada, abonará
estes parvos dias de silêncio.
Pedir desculpas não chega.
Pois
é, seu Sammy, para quê tanto papel se você se estrepa igualzinho aos outros?
Então, presenciou a verdade de toda a
lamentável situação, e estremeceu.
Até amanhã!
1 comentário:
Bem Vindo Caro Sammy.
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