segunda-feira, 19 de julho de 2010

O HOMEM DUPLICADO




O Homem Duplicado

José Saramago

Editorial Caminho, Lisboa Outubro de 2002

“O Homem Duplicado” foi escrito e publicado num tempo em que muito se falava de clones e clonados.

Foi uma leitura difícil. Pela primeira vez comecei um livro de Saramago e não o acabei. Fui-o lendo, aos poucos, muito demoradamente e sempre com pouco entusiasmo.

Há quem pense que José Saramago só poderia escrever grandes livros. Felizmente que assim não foi. Não seria possível…tão pouco interessante.

Grosso modo, o livro conta a história de Tertuliano Máximo Afonso, um vulgar professor de História, divorciado, cansado da vida, sem distracções, nem interesse por elas. Um dia aceita a sugestão de um colega, e aluga um filme.

Repara então que um dos actores, António Claro, é uma cópia fiel da sua pessoa: voz, aparência, gestos, tudo. E decide descobrir a identidade da sua cópia, que vive na mesma cidade, mas não no mesmo bairro.

O livro é esse caminho insólito de Tertuliano até encontrar António, a sua duplicação.

Eduardo Prado Coelho, numa crítica ao livro, publicada no “Público” de 9 de Novembro de 2002, curiosamente, foi buscar uma velha história de Alfred Hitchcock:

“Que é um MacGuffin?
Um homem num comboio interroga outro homem sobre um pacote que tinha colocado na bagageira da carruagame. O outro responde, apontando o pacote: “Ah, isso é um MacGuffin.” O primeiro pergunta: “Mas o que é um MacGuffin?” O outro diz: “É um aparelho que serve para caçar leões nas montanhas de Adirondack.” “Mas não há leões nas montanhas de Adirondack”, observa o primeiro. Ao que o segundo retorque: “Então não é um MacGuffin.”
Donde um MacGuffin é qualquer coisa que não é verdadeiramente nada, mas que passa a sustentar um segredo. E o segredo é o que move o protagonista.


José Saramago diz:

“No fundo, o que eu quero abordar é o tema do “outro”. Se o “outro” é como eu, e o “outro” tem todo o direito de ser como eu, pergunto-me: até que ponto é que eu quero que esse “outro” usurpe o meu espaço? Nesta história o “outro” tem um significado que nunca antes teve. Actualmente no mundo entre “eu” e o “outro” há distâncias, e não é possível superar essas distâncias, e por isso cada vez menos o ser humano pode chegar a um acordo. Cerca de 95% das nossas vidas é obra dos demais. No fundo, vivemos num caos e não há uma ordem aparente que nos governe. Então a ideia-chave do livro é que o caos é um tipo de ordem por decifrar. Com este livro proponho ao leitor que investigue a ordem que há no caos.


Na contra-capa de “O Homem Duplicado” pode ler-se uma máxima do “Livro dos Contrários”:


“O caos é uma ordem por decifrar.”

1 comentário:

sammyopaquete disse...

As epígrafes que encontramos nas obras de Saramago são tiradas de livros que não existem: “Livro dos Conselhos”, “Livro dos Provérbios”, ”Livro das Epígrafes”, “Livro das Evidências”, “Livro dos Contrários”, “Livro das Previsões”, Livro dos Itinerários”, Livro das Vozes".
Durante Junho de 2011 tentámos um esboço dessas epígrafes, e não só.
Este é um atalho para chegar a esse trabalho:
http://caisdoolhar.blogspot.pt/2011/06/saramagueando_7495.html.
Obrigado pela visita.