sábado, 17 de julho de 2010
A CAVERNA
A Caverna
José Saramago
Editorial Caminho, Lisboa, Novembro de 2000
A 14 de Setembro de 1997, escreve José Saramago no 5º volume dos seus Cadernos de Lanzarote:
“... e à entrada de Lisboa, quando passávamos debaixo do primeiro viaduto interrompi o que ela estava a dizer-me: “Espera, acabei de ter uma idéia.” À nossa frente, sobre o lado direito, um enorme painel publicitário anunciava a próxima inauguração do Centro Comercial Colombo. Uma ideia de quê?”, perguntou Maria José. “Aquilo”, respondi, “talvez esteja ali um livro.” “O anúncio?” “Não propriamente o anúncio.” “Então?” “Não te posso dizer mais, foi como um relâmpago que me tivesse atravessado.” “Como em outras vezes...” “Talvez, quem sabe...” Os caminhos pareciam multiplicar-se dentro da minha cabeça. “Podia chamar-se “O Centro”, murmurei.”
Mas em vez de "O Centro", o livro viria a chamar-se "A Caverna"
Na crítica que Linda Santos Costa publicou no “Público” de 11 de Novembro de 2000:, o livro é: “a denúncia da alienação do homem através do tempo da aldeia comunitária em que domina o trabalho artesanal à sociedade de consumo impessoal e desumanizante.
A acção é dominada pela figura do oleiro Cipriano Algor que circula entre os dois mundos (a aldeia, onde vive e trabalha, e o Centro, onde vai vender o produto do seu trabalho) e o que põe em movimento a narrativa é a recusa, por parte do Centro, de continuar a receber e vender os seus produtos.”
José Saramago: “É uma história de perdedores cuja única vitória é que não se entregam ao triunfador. É a revolta possível, mas sem, ela não poderá haver outra. A derrota definitiva seria a submissão, e mesmo assim não devemos esquecer que as gerações se sucedem, mas não se repetem. Assim como de insubmissos podem nascer submissos, também dos que se submeteram poderão nascer os que haverão de se revoltar. Não diria exactamente sobre a globalização, mas sobre essa fatalidade económica que faz com que venha um momento em que já não somos necessários”.Pedro Mexia, numa crítica no “Diário de Notícias”, s/d, disse tratar-se “de um requiem pelo comércio tradicional com reflexões infantis sobre o capital e o trabalho que não estão isentas. Como o autor nos diz, de “simpatia de classe”, quando na verdade estamos diante de uma litania reaccionária contra a tecnologia e o progresso.”
Pedro Correia, no blogue "Delito de Opinião":
...deixei-o a meio, farto de tanto ataque primário ao capitalismo.
Um extracto de A Caverna:
As sentidas razões de queixa de Cipriano Algor contra a impiedosa política comercial do Centro, extensamente apresentadas neste relato de um ponto de vista confessada simpatia de classe que, no entanto, assim o cremos, em nenhum momento se afastou da mais rigorosa isenção de juízo, não poderão fazer esquecer, ainda que arriscando um espevitar inocente da adormecida fogueira das conflituosas relações históricas entre o capital e o trabalho, não poderão fazer esquecer, dizíamos, que o dito Cipriano Algor carrega com algumas culpas próprias em tudo isto, a primeira das quais, ingénua, inocente, mas, como à inocência e à ingenuidade tantas vezes tem sido maligna das outras, foi pensar que certos gostos e necessidades dos contemporâneos do avô fundador, em matéria de produtos cerâmicos, se iriam manter inalteráveis per omnia saecula saeculorum ou, pelo menos, durante toda a sua vida, o que vem a dar no mesmo, se bem reparamos.
Subscrever:
Enviar feedback (Atom)
Sem comentários:
Enviar um comentário