sábado, 10 de julho de 2010
IN NOMINE DEI
In Nomine Dei
José Saramago
Editorial Caminho, Março de 1993
Esta é a quarta peça de teatro de José Saramago e que deu origem a uma ópera, “Divara”, novamente com música de Azzio Corghi.
O tema central da peça é o fanatismo religioso.
Explica Saramago:
“Surgiu por um convite feito pelo Teatro da Ópera de MInster, na Alemanha. Acharam que eu podia contar essa história, ocorrida no século XVI, entre 1530 e 1535, que tem como antecedente próximo a Reforma de Lutero e como paisagem circundante os vários conflitos religiosos dessa época. Os luteranos chamados protestantes dividiram-se em tendências, e os anabaptistas eram uma delas, muito mais radical. Isso levou ao grande enfrentamento entre a Igreja Católica e os anabaptistas disseminados no norte da Alemanha, Holanda e Países Baixos.. Foi uma tragédia, daqueles dramas humanos cuja lógica ninguém entende. O que me atraiu nesse convite é que – tendo em conta que hoje vivemos numa atmosfera de intolerância tão generalizada que já chegou às manifestações mais violentas da xenofobia e do racismo – considerei talvez valer a pena usar uma questão do século XVI para nos fazer pensar.”
A abrir “In Nomine Dei”, escreve José Saramago:
“Entre o homem, com a sua razão, e os animais, com o seu instinto quem afinal, estará mais bem dotado para o governo da vida? Se os cães tivessem inventado um deus, brigariam por diferenças de opinião quanto ao nome e dar-lhe, Perdigueiro fosse, ou Lobo-d'Alsácia? E, no caso de estarem de acordo quanto ao apelativo, andariam, gerações após gerações, a morder-se mutuamente por causa da forma das orelhas ou do tefado da causa do seu canino deus?
Que não sejam estas palavras tomadas como uma nova falta de respeito às coisas da religião, a juntar à “Segunda Vida de S. Francisco” de Assis” e ao “Evangelho Segundo Jesus Cristo.” . Não é culpa minha nem do meu discreto ateísmo se em Münster, no século XVI, como em tantos outros tempos e lugares, católicos e protestantes andaram a trucidar-se uns aos outros em nome do mesmo Deus – “In Nomine Dei” - para virem a alcançar, na eternidade, o mesmo Paraíso. Os acontecimentos descritos nesta peça representam, tão-só, um trágico capítulo da longa e, pelos vistos, irremediável história da intolerância humana. Que leiam assim, e assim o entendam, crentes e não crentes e farão, talvez, um favor a si próprios. Os animais, claro está, não precisam”.
Quase no findar da peça, fala do personagem Heinrich Gresbeck:
“Talvez Deus não seja católico, talvez não seja protestante, talvez não seja senão o nome que tem.”
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