Exemplar do nº 16, da revista “Ler”, referente ao Outono de 1991, e editada pelo “Círculo de Leitores”.Contém uma entrevista, a José Saramago, feita por de Francisco José Viegas.
“Não abdica do ideal comunista, escreveu um livro (a publicar em Novembro próximo) sobre a vida de um Cristo imaginado humano. “O Evangelho Segundo Jesus Cristo”, a lançar pela Editorial Caminho, é, em simultâneo, uma biografia de Jesus e do seu tempo, e uma reconstrução das suas ideias e obras, antes de o cristianismo as deter e reter para si, Uma vida apaixonante de Cristo, de Deus, de Maria e de S. José, por José Saramago.”Aborda-se “O Evangelho Segundo Jesus Cristo” mas, quando a entrevista foi concedida, viviam-se dias agitados na URSS, um golpe pretendia pôr em causa a “Perestroika.” Francisco José Viegas não perde a oportunidade de saber o posicionamento de Saramago sobre esses acontecimentos, bem como em relação à sua militância como membro do PCP.
“As suas actividades políticas não o impediram de escrever nos últimos dois anos?
“Não nunca me interromperam o trabalho, para já porque as minhas actividades políticas estão, neste momento reduzidas a nada. Além do mais, o meu partido, o PCP, entende que eu não tenho que ser distraído do meu trabalho com actividades políticas mais imediatas.
É possível a sobrevivência do comunismo?
Acho que sim. Repare, a ideia, o ideal comunista não nasceu ontem, não nasceu com Lenine, com Marx. Acompanhou o homem desde o início de tudo. Desde o início dos tempos… o facto de os recentes acontecimentos na URSS apontarem claramente para um caminho que se situa fora da área do comunismo não quer dizer que o comunismo tenha acabado. O modelo falhou não tenho dúvidas. É mais do que óbvio. Podemos dar-lhe os nomes que quisermos, socialismo científico, socialismo real, mas os factos estão aí, a dizê-lo e a prová-lo claramente: o modelo real falhou. Este era um dos modelos possíveis. Mas penso que o ideal não morre.
(…) Eu tenho o partido que tenho, e não tenho outro. Se estou dentro, tenho de enfrentar todas as consequências. Na minha relação com o PCP não entro em conta com a minha “base social de apoio” (a expressão é do Eduardo Prado Coelho) enquanto escritor, ou cidadão. Se tiver de acontecer que o facto de o PCP não ter feito a sua “perestroika” afecte a minha vida pública como escritor, não é por isso que deixo o meu partido. Não, não deixo o partido.”
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