segunda-feira, 5 de julho de 2010

BOLAS PRÓ PINHAL!

Como dizem os brasileiros, deu a louca nos coleccionadores de cromos do Mundial 2010.
Sou do tempo dos bonecos da bola, e nunca consegui fazer uma colecção completa, porque me faltava sempre o mais custoso, o chamado número da bola. As estampas vinham embrulhadas em rebuçados, e o mais custoso estava, algures, no fundo da caixa. Uns com dinheiro mais do que outros, chegavam a um ponto e compravam o resto da caixa. Sabia-se sempre que o mais custoso ainda não tinha saído, porque a bola de catechu mantinha-se pendurada à porta das papelarias/tabacarias.
A primeira colecção de cromos estampados de que me recordo, foi a das “Raças Humanas”, editada pela Agência Portuguesa de Revistas.

O recente negócio dos cromos terá aparecido em 1961, quando quatro irmãos, em Modena, Itália, fundaram a “Panini”, que ainda hoje se mantém no ramo, tendo facturado, no ano de 2009, 620 milhões de euros e emprega, actualmente 750 pessoas.

No correr dos tempos, sempre houve um grande entusiasmo com as colecções de cromos, mas nada que se compare ao que ainda está a acontecer com o “Mundial 2010”, a roçar os limites da quase loucura.

A paranóia não atacou apenas os miúdos – atacou toda a gente!

O “Público” de 20 de Junho, dedicava toda a sua 36ª página à febre dos cromos do Mundial.
O título não engana:

“Dona Amélia anda desesperadamente à procura de Nam Song-chol”.

Tem dois netos e 67 anos, diz que a colecção é para os “netinhos”, mas poucos acreditam e a notícia, adianta ainda, que 30 por cento dos coleccionadores superam os 35 anos de idade.


A colecção é constituída por 640 cromos. Para completar a caderneta, sem contar com os cromos repetidos, são necessárias 128 carteirinhas o que significa gastar, no mínimo 76,8 euros.
Os vendedores de cromos no Rossio tiveram que fazer horas extraordinárias. No “Colombo”, às sextas-feiras, à porta da FNAC, havia trocas e vendas de cromos

Na Internet há blogues de troca de cromos, também há foruns, e tudo o que imaginar se possa.
Por uma tarde de domingo, à saída do metro da Praça do Chile, junto à banca de jornais, quatro velhos trocavam cromos entre si, voltei atrás para confirmar, perguntaram-me logo se tinha “p’ra troca.”.

Um despacho da Lusa de 16 de Junho dá conta:

" À porta da estação de comboios do Rossio, em Lisboa, Manuel Santos, conhecido como o "Manuel dos Cromos", vende cromos desde 1974.
Ao seu lado, diversos homens fazem da sua profissão a troca, compra e venda de cromos, um local onde dezenas de coleccionadores passam momentos do seu dia à procura do cromo que falta na colecção.
Alguns dos cromos mais raros, diz o "Manuel dos Cromos", são o 31, o 391 e o 447, este último dedicado, curiosamente, a Óscar Cardozo, avançado paraguaio do Benfica."


A colecção foi preparada, mais ou menos, com um ano e meio antes do Mundial, fechada em finais de Fevereiro, e mesmo assim há cromos de jogadores que, por isto ou por aquilo, acabaram por não pisar os relvados da África do Sul.


Mas quem se preocupa?

A poeira há-de assentar e, mais dia menos dia ,a caderneta ficará adormecida no fundo duma gaveta.

Depois, outras colecções virão!

Tempo de o Afonso voltar a mobilizar toda a família e arrastar o pai até à estação do Rossio para que colecção fique completa.

Era o que faltava se ficasse incompleta!...

Sem comentários: