sábado, 24 de julho de 2010
A VIAGEM DO ELEFANTE
A Viagem do Elefante
José Saramago
Editorial Caminho, Lisboa, Outubro de 2008.
António Mega Ferreira, num texto que intitulou “A Viagem Continua”, faz uma interessante abordagem a este livro de José Saramago, Mega Ferreira que diz que nem todos os livros de Saramago são para o seu gosto, excepção a “Memorial do Convento” ,“O Ano da Morte de Ricardo Reis” e, agora, “A Viagem do Elefante”:
“Uma história magistralmente contada, numa jubilação de escrita que é quase como um renascimento, depois das sombrias cogitações alegóricas dos seus últimos livros. Nada nos diz que este livro não seja tão só um feliz interregno (digamos, um “scherzo) entre dois andamentos “agitati” na vasta obra de Saramago. Mas cheira-me que não: aos 86 anos, fiel a si próprio e ao seu gosto pela escrita (é verdade, escrever para ele não é nem angústia nem catarse, Saramago refundou-se. Renasceu. E há, no seu admirável romance, um tom de reconciliação com a vida (e com os homens) que traz à memória alguns dos momentos mais altos da sua obra.” Li, nos últimos dias, que este é “o seu melhor livro depois do Nobel”.
A “Viagem do Elefante” é, pura e simplesmente, literatura. E é excelente.”.
José Saramago escreveu, a quase totalidade de “A Viagem do Elefante”, depois de uma gravíssima doença que o acometeu durante o ano de 2007.
Na habitual dedicatória, Saramago escreveu:
“A Pilar, que não deixou que eu morresse.”
O brasileiro Viegas Fernandes da Costa lembra:
“Há quem diga que a carícia da morte devolve-nos uma leveza e um certo humor que perdemos com o transcorrer dos anos”.
O livro relata a viagem de um elefante, presente de casamento do rei Dom João III e Dona Catarina a Maximiliano de Áustria, de Lisboa a Viena.
Puro divertimento, uma alegria interior que fica a bailar, quando fechamos o livro.
Começa assim:
“Por muito incongruente que possa parecer a quem não ande ao tento da importância das alcovas, sejam elas sacramentadas, laicas ou irregulares, no bom funcionamento das administrações públicas, o primeiro passo da extraordinária viagem de um elefante à áustria que nos propusemos narrar foi dado nos reais aposentos da corte portuguesa, mais ou menos à hora de ir para a cama. Registe-se já que não é obra de simples acaso terem sido aqui utilizadas estas imprecisas palavras, mais ou menos. Deste modo, dispensámo-nos, com assinalável elegância, de entrar em pormenores de ordem física e fisiológica algo sórdidos, e quase sempre ridículos, que, postos em pelota sobre o papel, ofenderiam o catolicismo estrito de dom joão, o terceiro, rei de portugal e dos algarves, e de dona catarina de áustria, sua esposa e futura avó daquele dom Sebastião que irá a pelejar a alcácer-quibir e lá morrerá ao primeiro assalto, ou ao segundo, embora não falte quem afirme que se finou por doença na véspera da batalha.”
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