terça-feira, 20 de julho de 2010

ENSAIO SOBRE A LUCIDEZ


Ensaio Sobre a Lucidez

José Saramago
Editorial Caminho, Lisboa, Março de 2004

José Saramago nunca perdeu uma oportunidade de se constituir num gerador de polémicas, de modo algum fúteis e nunca estéreis: 

“A minha especialidade é levantar uma pedra para ver o que está por baixo.”

A apresentação de “Ensaio Sobre a Lucidez”. em Março de 2004, no Centro de Congressos de Lisboa decorreu, perante milhares de pessoas, com um debate moderado por José Manuel Mendes, e que contou com a presença de José Saramago, José Barata Moura, Mário Soares e Marcelo Rebelo de Sousa.


Disse, então, Saramago: “Estou contra o sistema que nos governa e consegui encontrar o instrumento por excelência de contestação: o voto em branco.”

“Ensaio de Lucidez”
provoca a discussão do sentido e eficácia do voto em branco que deveria ser um voto validamente expresso, e como tal considerado, em confronto ou contraste, com o poder viciado da democracia partidária.


"O voto em branco é uma arma democrática que possuímos para impedir os políticos de continuarem a brincar connosco.”, ainda Saramago.

Algures, numa não nomeada cidade, há eleições autárquicas. É grande a afluência às urnas mas, após a contagem dos votos, verifica-se que a esmagadora maioria dos votos estão em branco. Nem governo, nem políticos, nem comentadores políticos, nem jornalistas compreendem a situação e interrogam-se de como pode um povo ser tão irresponsável?

“O desencanto, a estupefacção, mas também a troça e o sarcasmo, varreram o país de lés a lés”.
O “Ensaio sobre a Lucidez", assegura Saramago, “toca um assunto que não é tabu, mas tem que ver com o exercício cívico de voto e suas consequências". Como acontece com tudo o que está à vista, acabamos por não ver" essas consequências.”

E conclui:


"Não sou pessimista. O Mundo é que é péssimo",

O livro abre com a epígrafe; “Uivemos, disse o cão.”

“A esperança reside no cão que diz: “Chegou a hora de eu uivar, e esse uivo silencioso é o protesto dos cidadãos, aqueles que têm consciência de que a democracia está ferida de morte, que vão dizer ao Poder: “Este sistema democrático não nos serve.”


Que mais afirma Saramago?


“A democracia não é um ponto de chegada, mas de partida. Quando digo que a democracia se suicida diariamente, perde espessura e se desgasta, estou a falar de um sentimento que nos afecta, a nós, cidadãos.
Que o poder efectivo real é, sem dúvida, o poder económico. Os governantes são comissários políticos do poder económico. Já não há jornais, há empresas jornalísticas, que não têm autonomia porque são propriedade de grandes industriais, da banca.”


Algures no livro:


“Falemos seriamente, senhor ministro, estará o governo disposto a acabar com a farsa do estado de sítio, mandar a avançar o exército e a aviação, pôr a cidade a ferro e fogo, ferir e matar dez ou vinte mil pessoas para dar um exemplo, e depois meter três ou quatro mil na prisão, acusando-as não se sabe de que crime quando precisamente crime não existe. Não estamos em guerra civil, o que queremos, simplesmente, é chamar as pessoas à razão, mostrar-lhes o engano em que caíram ou as fizeram cair, isso é o que falta averiguar, fazer-lhes perceber que um uso sem freio do voto em branco tornaria ingovernável o sistema democrático. Não parece que os resultados, até agora, tenham sido brilhantes, Levará o seu tempo, mas por fim as pessoas verão a luz..."

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