segunda-feira, 5 de julho de 2010

A JANGADA DE PEDRA



A Jangada de Pedra

 José Saramago, 
Editorial Caminho, Lisboa, Outubro de 1986

No ano em que Portugal é recebido na CEE, José Saramago publica “A Jangada de Pedra”.

A Península Ibérica desprende-se, nos Pirinéus, separa-se da Europa, navega Atlântico fora.
José Saramago admite que é um livro que poderá entender-se como uma ideia contra a integração na Comunidade Europeia, porque essa integração, não teve em conta os nossos interesses culturais e materiais. Mas não é um livro anti-europeu.

Neste livro tentei mostrar duas coisas; primeiro: a Península Ibérica tem pouco a ver com a Europa no plano cultural. Dir-me-ão que a língua vem do latim, que o Direito vem do Direito Romano, que as instituições são europeias. Mas o certo é que, com este material comum, fez-se nesta península uma cultura fortemente caracterizada e distinta. Segundo: há na América um número muito grande de povos cujas línguas são a espanhola e a portuguesa. Por outro lado, mesmo em África novos povos que são as nossas antigas colónias.
Então imagino, ou antes, vejo uma enorme área ibero-americana e ibero-africana, que terá certamente um grande papel a desempenhar no futuro. Esta não é uma afirmação rácica, que a própria diversidade das raças desmente. Não se trata de nenhum quinto nem sexto império. Trata-se apenas de sonhar – acho que esta palavra serve muito bem – com uma aproximação entre estes dois blocos, e com o modo de o demonstrar. Ponho a Península a vogar para o seu lugar próprio, que seria no Atlântico, entre a América do Sul e a África Central. Imagine, portanto, que eu sonharia com uma bacia cultural atlântica.


Um anónimo português disse:


A Península Ibérica tem a forma duma jangada.

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