Gostaria que as minhas chegadas ao “Cais do Olhar” não fossem tão espaçadas. Mas enquanto os cuidados a ter com o André, tiverem a rotina de que ele necessita assim terá que ser.assim terá que ser.
Mas hoje trago-vos a passagem de um livro, “ O Pai Francês” de Alain Elkann. Não posso fazer a transcrição sem vos explicar o contexto em que surgiu, e que me levou a ler o livro.
Há uns tempos atrás, andava eu a “governar a mente”, como dizia Hans Castorp, no livro “ A Montanha Mágica”, de Thomas Mann, quando perguntei ao meu pai o que fazia nas situações em que necessitava de conselhos do pai, ou que, pelas passagens tempestuosas da vida sentia que precisava dos seus conselhos. O meu pai encolheu os ombros, olhou a vista da janela da
minha casa e disse que tinha lido há pouco qualquer coisa sobre isso na “net”. Não deu resposta elaborada mas deixou-me segura e com uma semente de resposta lançada. Passado uns dias entregou-me um pedaço de papel, com uma transcrição que “considerámos” interessante e que partilho agora convosco.
Este pedaço do livro é, sem dúvida, o que melhor relaciona a minha pergunta com a resposta do meu pai:
“Em que é que sinto a falta do meu pai? O que é um pai quando já não existe? Quer dizer que nos tornámos pais, que já ninguém nos consola ou nos ralha, que já ninguém é o nosso chefe ou o nosso melhor amigo? Quer dizer que a nossa vida já não é ilimitada? Mais alguns anos e seremos nós os velhos que irão morrer. Fiquei sozinho e devo prosseguir. Muitas vezes, quando me encontro perante uma decisão a tomar, pergunto-me o que é o que meu pai
teria feito no meu lugar, que conselhos me daria. Quando ele era vivo, eu raramente escutava os seus conselhos, mas agora que ele já cá não está... Às vezes não sei a quem me devo dirigir, devo fazer as coisas sozinho, encontrar energia dentro de mim. Damo-nos conta de que os filhos não substituem os pais. Com eles não se podem dizer as mesmas coisas. Não podemos ser fracos com os filhos, não nos podemos fazer consolar. A eles é preciso dar boas notícias, guiá-los, consolá-los, ajudá-los e, sobretudo, fazer-lhes falar de si próprios: sempre e apenas de si próprios. É assim, também nós não ajudávamos os nossos pais, e aquilo que nos falta é o
facto de já não estarem ali, prontos a ouvir-nos.”
“O Pai Francês” de Alain Elkann, “Cavalo de Ferro Editores", Setembro 2004
Colaboração de Sara Calisto
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