segunda-feira, 31 de dezembro de 2012

OLHAR AS CAPAS


Farpas Esquecidas
Volume II
Ramalho Ortigão
Livraria Clássica Editora, Lisboa 1946

Aí os têm ambos na estação do Entroncamento da linha férrea da História: o novo ano que vem e o ano velho que vai.
É um mistério que chega e um desengano que se retira.
O velho parte em terceira classe, com o seu alforge e o seu bordão, encanecido e caquético, de pés arrastados e de mandíbula tremente; pobre e enfermo, arruinado e gasto. A sua bagagem consta unicamente de papéis: lembranças de coisas que lhe esqueceram, notas de promessas que não cumpriu, projecto de obras que não fez, borrões de leis que não passou a limpo, planos de reformas com que não reformou coisa nenhuma, algumas quadras, um princípio de romance, várias receitas de botica, um maço de cartas de namoro, três convites para o paço, um menu de jantar, os diplomas de sócio dos Fenianos, da Associação dos Escritores Públicos, dos Prussianos do Seixal e da Sociedade de Geografia, diversos bilhetes da lotaria, de benefícios e de boas festas, um relatório, muitas contas, e um mandado de penhora.
É para a história que se dirige este passageiro. Meus senhores, tenham a bondade de deixar passar! Terceira Classe, ao fundo, bilhete de favor abonado pela companhia. É o nº 1881.
O novo tem o aspecto romanesco e aventuroso. Cobre o rosto na dobra da capa cor de muro de jardim; uma pluma azul enrosca-se-lhe na copa do sombreiro de castor preto: sai-lhe do seio com um perfume de violetas uma ponta de luva e de renda; e a extremidade da sua fina espada de paladino levanta-lhe a orla da capa, descobrindo os pés finos calçados em botas de camurça com esporas góticas, de puas recurvas e grandes rosetas polidas e tilintantes.
É este o que vem entrar na liça e combater pelo outro que sai da arena trôpego e imbecil.
Tanjam os atabales e as charamelas! Desdobrem-se os estandartes e os pendões! Icem-se as signas e os galhardetes! Acendam-se as fogueiras e aproximem as luzes! Tragam os candelabros e as tochas para vermos de perto o rosto do novo campeão, que vai desembuçar-se, descobrir a cabeça e desembainhar a espada para entrar nas justas.

OS PRESÉPIOS DA CASA

MINIATURAS DE NATAL

DO BAÚ DOS POSTAIS

domingo, 30 de dezembro de 2012

OS CLÁSSICOS DO MEU PAI



Se por cá ainda andasse, o Sr. Francisco de Freitas Santos, meu pai e o meu ouvinte mais inteligente, fazia hoje 100 anos e estaria agora à mesa, a contar histórias, a despejar garrafas de tinto e com uma ponta de melancolia pelos milhares de cigarros Unic que fumou.
Reverter o olhar para antigamente e saber que por muito que pudesse dizer, as palavras não chegavam, a memória sufocava em hiatos de quem um dia teve a mania que essa memória seria de elefante.
Este disco do Domenico Modugno foi comprado pelo meu pai, Discoteca Universal, 26 de Julho de 1967 e custou cinquenta e cinco escudos.
As suas constantes caminhadas em busca de versões de La Mamma.
Acontece que o EP do Modugno tem uma canção que se chama Stasera Pago Io e que o meu pai logo

elegeu como uma das suas favoritas.
A canção em si e o gosto que ele tinha em pagar o petisco, os copos.
De certeza certa, apenas sei de me ter deixado pagar os copos e o resto, em duas ocasiões: quando os meus filhos nasceram.
Quando outros dizem as coisas melhor do que digo, não é difícil, desço pela esquerda  baixa e dou entrada ao José Agostinho Baptista:

EVOCAÇÃO
Que fazer com esta saudade,
como trazer hoje para junto de mim os
barcos que passavam noutros tempos,
ao largo de outra cidade,
quando me sentava sem palavras,
sem violinos,
e bebia sem fim,
como hei-de dizer-te, pai, que não levei as tuas
cinzas no fundo do coração,
que não pedi aos músicos do sonho para
tocarem a mais bela marcha fúnebre,
no campo santo das ilhas aonde não
regressei.
Tenho medo, tenho frio.
Dói, oh, como dói
a  noite que se aproxima, sem um abraço,
sem um amigo,

sem um punhal que rasgasse para
sempre este corpo imóvel,
com todas as sua janelas fechadas onde
já não vem cantar o melro dos teus
ninhos, pai,
onde só as ervas da amargura sobem
os muros,
e definitivamente só,
entro neste túnel eterno, sem uma luz ao
fundo.



OS PRESÉPIOS DA CASA

OS CROMOS DO BOTECO


Os Coros Offenbach, dirigidos por Werner Blim, interpretam O Tannenbaum e Stille Nacht, Heilige Nacht

TE DEUM


Hoje, não iremos marcar presença no Te Deum na Igreja de São Roque, integrado na série de Concertos da Fundação Calouste Gulbenkian.
Se no ano passado já foi com sacrifício que despendemos 22,00 euros pelo bilhete, este ano, ainda de maior crise, teríamos de fazer maiores sacrifícios para despender 32,00 euros pelo bilhete.
Resta a consolação que, a exemplo do ano passado, a RTP 2 transmitirá o concerto em directo.
Não é bem a mesma coisa, mas, enfim,  sempre é melhor que nada.

SEGUNDA-FEIRA, 31 DE DEZEMBRO
17,00 HORAS – IGREJA DE SÃO ROQUE

TE DEUM de António Leal Moreira, primeira audição moderna.

CORO E ORQUESTRA GULBENKIAN
JORGE MATTA maestro
ANA QUINTAS soprano
BENNO SCHACHTNER contratenor
FERNANDO GUIMARÃES tenor
DIOGO OLIVEIRA baixo
MARISA FIGUEIRA so prano
JOANA NASCIMENTO contralto
PEDRO CACHADO tenor
MANUEL REBELO baixo

A tradição de cantar o Te Deum no dia 31 de Dezembro, como acção de graças pelo ano que passou, deu origem a uma das cerimónias litúrgico-musicais mais importantes da Lisboa setecentista.
Depois do sucesso do ano passado, em que foi feita pela primeira vez a reconstituição histórica de uma dessas cerimónias, volta o Coro e a Orquestra Gulbenkian à Igreja de São Roque, desta vez com um Te Deum de António Leal Moreira

sábado, 29 de dezembro de 2012

NATAL DOCE, DOCE NATAL

Ternura é o tema do pacotinho de açúcar de hoje.

A ternura é um gesto genuíno de carinho e meiguice. É um sentimento pleno que dá mais Doces Momentos à sua vida., tornando-a mais repleta de sentido.

MIUDEZAS DE NATAL

OS PRESÉPIOS DA CASA

sexta-feira, 28 de dezembro de 2012

BOM SENSO


O Governo brasileiro adiou, esta sexta-feira, a aplicação obrigatória do novo acordo ortográfico em três anos, para 1 de janeiro de 2016, de acordo com o decreto publicado no "Diário Oficial da União".
Até então, o decreto promulgado em 2008 previa a aplicação obrigatória das novas regras em janeiro de 2013, já na terça-feira.
A iniciativa do adiamento surgiu após um pedido de parlamentares da Comissão de Educação do Senado, que ouviram, numa audiência pública, as críticas de destacados linguistas brasileiros às novas regras.
Para os especialistas, como o linguista e professor brasileiro Ernani Pimentel, o adiamento é um primeiro passo para a reforma do Novo Acordo que, na sua opinião, não simplifica suficientemente a língua portuguesa.
Dos Jornais

À LUPA


Primeiro-ministro comentou as críticas que lhe têm sido feitas nos últimos dias a propósito da sua mensagem natalícia publicada na quarta-feira no Facebook: "Nós não somos duas pessoas. Sou primeiro-ministro e também sou cidadão."
Dos jornais.
 Legenda: imagem do Diário de Notícias.

MIUDEZAS DE NATAL

OS PRESÉPIOS DA CASA


Mais presépios da casa.

OS CROMOS DO BOTECO


Sinos do Natal -Alegres Repicam os Sinos - Os Animais do Presépio - Duas Canções do Natal

Interpretação de Almerinda Serra e o Sexteto Feminino, com acompanhamento do Conjunto de Shegundo Galarza.

quinta-feira, 27 de dezembro de 2012

OLHAR AS CAPAS


O Mundo à Minha Procura
Vol. I
Ruben A.
Assírio &Alvim, Lisboa Novembro 1992
Se pensar bem, vejo que nada encontrei na vida que se compare ao Natal do Campo Alegre. Era um Natal nórdico, alimentado pela combustão germânica e dinamarquesa da família de meus avós, aperfeiçoado pelos requintes trazidos ao seu brilho pelas minhas tias que, através do casamento ou por feitio, capricharam mais em festejar a data do nascimento de Cristo sob a forma tradicional das antigas lendas do Reno, do que segundo os cânones da consoada portuguesa.O Natal no Campo Alegre era o máximo na nossa vida anual. Nada se lhe comparava, nada, no decorrer da vida, me vibrou tanto como aquela noite de 24 de Dezembro em que se acertavam as medidas eufóricas dos presentes, deitar tarde, bons petiscos e liberdade de acção nas salas menos povoadas da casa.Foi nos anos que vivi em Inglaterra, que percebi bem o Natal no Campo Alegre. Em Inglaterra, o Natal começa em Outubro. No Campo Alegre, e para nossos temperamento isto já é formidável, o Natal começava nos últimos dias de Novembro, quando se preparavam medidas de prendas, projectos de decorações, de encomendas para o jantar e de muitas coisas que mais adiante se relatará.

CONVERSAS DESTES DIAS


- Então esse Natal?
- Lá se passou... mais um...

MIUDEZAS DE NATAL


Oferta do Luís Pinheiro de Almeida, no Natal do ano passado.

OS PRESÉPIOS DA CASA


Presépio oferecido pelo António Abaladas.

NATAL DOCE, DOCE NATAL


O pacotinho de açúcar de hoje da Sidul, fala de ALEGRIA.

A alegria é uma manifestação de contentamento e júbilo. É um sinónimo de felicidade, um estado de espírito que resulta dos Doces Momentos já vividos e por isso, tornados em grandes memórias.

quarta-feira, 26 de dezembro de 2012

MIUDEZAS DE NATAL

OS PRESÉPIOS DA CASA


Comprado em Barcelos em 1978.

SARAMAGUEANDO


Lanzarote, 26 de Dezembro de 1994

Dizem-me que em Nápoles há o costume, não sei se de sempre ou destes dias, de mandar vir um café e pagar mais do que se tomou. Por exemplo, quatro pessoas entram, sentam-se, pedem quatro cafés e dizem: «E mais três em suspenso.» Passado um bocado aparece um pobre à porta e pergunta: «Há por aí algum café em suspenso?» O empregado olha o registo dos adiantados, a verificar o saldo, e diz: «Há.» O pobre entra, bebe o café e vai-se embora, suponho que agradecendo a caridade. A mim, parece-me isto bem. Trata-se de uma solidariedade barata, é certo, mas se este espírito se fortalece acabaremos por ir ao restaurante e pagar dois almoços, entrar numa sapataria e pagar dois pares de sapatos, comprar um frango e deixar dois pagos, e tudo na mesma conformidade. Aliás, parece que não iremos ter outro remédio. Como o Estado cumpre cada vez menos e cada vez pior as suas obrigações para com os cidadãos, caberá a estes tomar conta da sociedade antes que nos tornemos todos, excepto os ricos e riquíssimos, em pobres de pedir, e portanto sem ninguém que nos pague um cafezinho.

José Saramago em Cadernos de Lanzarote, Vol. II, Editorial Caminho, Lisboa Março 1995.

terça-feira, 25 de dezembro de 2012

MIUDEZAS DE NATAL

POSTAIS SEM SELO



Se você consegue ficar deitado no chão sem se agarrar, então não está bêbado.
Dean Martin
Legenda: O velho Dino morreu no dia de Natal do ano de 1995.
O postal pertence ao infindável Baú de Postais da Aida.

OLHAR AS CAPAS


As Farpas
Vol. I
Ramalho Ortigão
Livraria Clássica Editora, Lisboa 1948
Não a vida não é uma festa permanente e imóvel, é uma evolução constante e rude. O Natal é a festa das lágrimas para todos aqueles para quem ele não é a festa da inexperiência. E todavia pensavam alguns que era útil não deixar de a celebrar. Que importa que o número ou que o nome dos convivas varie em cada ano? Que importa que alguns amados velhos faltem ao banquete? Que importa que nós mesmos faltemos para o ano que vem na festa dos mais novos?
Esta noite de alegria para as crianças será sempre de alguma saudade para os adultos. Assim teremos a esperança terna de sobreviver, por algum tempo, na lembrança dos que amamos – uma boa vez ao menos – de ano a ano.

OS MORTOS


 Eu sei, é preciso esquecer,
desenterrar os nossos mortos e voltar a enterrá-los,
os nossos mortos anseiam por morrer
e só a nossa dor pode matá-los.

Tanta memória! O frenesim
escuro das suas palavras comendo-me a boca,
a minha voz numerosa e rouca
de todos eles desprendendo-se de mim.

Porém como esquecer? Com que palavras e sem que palavras?
Tudo isto (eu sei) é antigo e repetido; fez-se tarde
no que pode ser dito. Onde estavas
quando chamei por ti, literalidade?

E todavia em certos dias materiais
quase posso tocar os meus sentidos,
tão perto estou, e morrer nos meus sentidos,
os meus sentidos sentindo-me com mãos primeiras, terminais
Manuel António Pina, Os Livros, Assírio &Alvim, Lisboa Novembro 2003.
Legenda: pintura de Stephen Darbishire.

PARA QUE NÃO DIGAM QUE NÃO VOU À MISSA!



Pelo menos uma vez por ano, a música sacra leva-me a campos de lírios que olho, mas não frequento.
Na quinta-feira, na Gulbenkian, a Grande Missa em Dó Menor, K. 427 de Wolfang Amadeus Mozart
Não sou de credos nem religiões.
Vivo bem com a fé e as religiões dos meus semelhantes
Tanto como gostaria que respeitassem não os acompanhar na fé que têm
Há que dizer que tive a sorte, - que lhe poderei chamar? -  de me caírem nas mãos, livros e autores que me contaram a história de uma outra maneira.
Lembro uma entrevista de António Gedeão, aproximavam-se os seus últimos tempos de vida:
Claro que eu não sou capaz de perguntar quem criou isto tudo. Por isso, não pergunto.
Ou o meu avô paterno dizendo, ou alguém por ele, que os milagres são mais próprios dos homens do que dos deuses.

Em 1783, perante a doença grave da sua mulher, Mozart terá feito uma promessa a Deus: no caso de Constance Weber recuperara, comporia uma grande missa em agradecimento. Constance recuperou e Mozart lançou-se à criação de uma obra monumental que, por razões desconhecidas não chegou a terminar. No entanto, mesmo incompleta, a Grande Missa em Dó menor chegou a ser apresentada na Abadia de Saint-Pierre de Salzburgo, tendo Constance cantado as partes de soprano. É, de pleno direito, uma das obras-primas do compositor de Salzburgo.

segunda-feira, 24 de dezembro de 2012

APESAR DE TUDO...


Aos amigos, aos que por aqui passarem, um Bom e Santo Natal.

OLHAR AS CAPAS


Diário

IV Volume
Miguel Torga
Edição do Autor, Coimbra Abril 1949

S. Martinho de Anta, Natal – Uma consoada triste, com minha Mãe a apodrecer no cemitério. À chegada, já não estava ela à porta a esperar-nos, nem ao jantar as rabanadas tinham o mesmo gosto. O velho, coitado, foi até onde pôde para se mostrar mais humanizado, Recebeu-nos ele, e fez as honras da casa. Como era impossível delegar na companheira perdida as delicadezas e os sorrisos, a sua timidez esforçou-se e apresentou-se gentil e afectuosa.
É fácil, porém, descobrir nos seus modos e nas suas palavras um desprendimento do mundo que não terá remédio. É como se ele tivesse também morrido já, mas estivesse condenado a fingir de vivo mais algum tempo.

OS PRESÉPIOS DA CASA



Um presépio Made in China, na casa há uns 24 anos.

UTILIDADES


Da sua viagem, no Verão, a Miami, o Miguel trouxe-me esta comovente mensagem.
Guardei-a para publicar no dia de hoje.
Apreciar o tempo que passo com a minha mãe

DO BAÚ DOS POSTAIS


Desde Suberburg, na Alemanha, os votos natalícios da Suzanne.

UM DESEJO DE NATAL

O QU'É QUE VAI NO PIOLHO?


Nasceu, em Grabtown, na véspera de Natal do ano de 1922.
Um oportuno capricho de Mr. Santa Claus, uma bela prenda de Natal oferecida aos homens, os de boa ou má vontade.
Quando lhe perguntaram se tinha animais em casa. Respondeu que sim: um poster de Ava Gardner, o mais belo animal do mundo.

domingo, 23 de dezembro de 2012

MIUDEZAS DE NATAL

NATAL, DOCE NATAL


Aventura

OS PRESÉPIOS DA CASA






O presépio mais antigo da casa.
Na família desde 1950.

O APELO DA TERRA



A chuva caiu farta, alagou a terra e deixou-me este sabor a húmido. Esta vontade de sol. O ar ficou cheio e eu não gosto do Inverno, dos dias curtos. Sinto a nostalgia do sol, do calor, das tardes infinitas, dos crepúsculos avermelhados. Sinto.
Sigo ainda o ritmo dos meus avôs, guio-me pelas estações, pela chuva, pelo vento, pelos dias grandes ou pequenos. Conheço as regras da água, o apelo da terra. Em mim, uma família inteira deixou uma herança. Tão grande que me foge das mãos, que me pede um caminho. Não sei qual. Não sei. E vejo que definham perante os meus olhos. Estão velhos e cansados os braços que me embalaram. Sinto que lhes pesa o tempo nos ombros, enquanto guardo no coração a infância. E temo. E sinto o avanço dos dias.

Marquesa D'Aires.

À LUPA


Passos Coelho disse que esta crise só é comparável à de 1974. Não se lembra da crise de 1973...

José Medeiros Ferreira no Córtex Frontal

sábado, 22 de dezembro de 2012

MIUDEZAS DE NATAL

POSTAIS SEM SELO


Sou indiferente ao frio do Inverno. O que temo é o coração frio dos homens.

Saigo Takamori


Legenda: quadro de Claude Monet

COISAS EXTINTAS OU EM VIAS DE...



É incontornável: tudo, ou quase, o que nos marca a vida vem lá de trás, da infância. Procura-se e encontramos tanta coisa…

Tenho dentro de mim o cheiro das tangerinas que, para o jantar do Dia de Natal, vinham da horta do meu tio no Lavradio.

O cheiro espalhava-se pelo barco movido  a carvão que nos trazia até Lisboa.

Tantas vezes que o meu pai falava desse maravilhoso, único cheiro.

Mas não era apenas o cheiro.

Aquelas tangerinas metia-se o polegar e abriam-se de uma só vez.

Depois era a doçura.

Hoje procuram-se tangerinas e raramente as encontramos.

Aparece-nos uma coisa a que chamam clementinas…

Sobre tangerinas poderia ficar a falar infindamente.

De uma maneira mais simples fiquemos com  o Eugénio d’Andrade  e um seu poema sobre o fascínio das tangerinas:

Pêssegos, peras, laranjas,
morangos, cerejas, figos,
maçãs, melão, melancia,
ó música dos meus sentidos,
pura delícia da língua;
deixai-me agora falar
do fruto que me fascina,
pelo sabor, pela cor, pelo aroma das sílabas:
tangerina, tangerina.

CONVERSAS DESTES DIAS


Se não nos voltarmos a ver, um Bom Natal!