sábado, 22 de dezembro de 2012

COISAS EXTINTAS OU EM VIAS DE...



É incontornável: tudo, ou quase, o que nos marca a vida vem lá de trás, da infância. Procura-se e encontramos tanta coisa…

Tenho dentro de mim o cheiro das tangerinas que, para o jantar do Dia de Natal, vinham da horta do meu tio no Lavradio.

O cheiro espalhava-se pelo barco movido  a carvão que nos trazia até Lisboa.

Tantas vezes que o meu pai falava desse maravilhoso, único cheiro.

Mas não era apenas o cheiro.

Aquelas tangerinas metia-se o polegar e abriam-se de uma só vez.

Depois era a doçura.

Hoje procuram-se tangerinas e raramente as encontramos.

Aparece-nos uma coisa a que chamam clementinas…

Sobre tangerinas poderia ficar a falar infindamente.

De uma maneira mais simples fiquemos com  o Eugénio d’Andrade  e um seu poema sobre o fascínio das tangerinas:

Pêssegos, peras, laranjas,
morangos, cerejas, figos,
maçãs, melão, melancia,
ó música dos meus sentidos,
pura delícia da língua;
deixai-me agora falar
do fruto que me fascina,
pelo sabor, pela cor, pelo aroma das sílabas:
tangerina, tangerina.

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