É incontornável: tudo, ou quase, o que nos marca a vida vem lá de trás, da infância. Procura-se e encontramos tanta coisa…
Tenho dentro de mim o cheiro das tangerinas que, para o jantar do Dia de Natal, vinham da horta do meu tio no Lavradio.
O cheiro espalhava-se pelo barco movido a carvão que nos trazia até Lisboa.
Tantas vezes que o meu pai falava desse maravilhoso, único cheiro.
Mas não era apenas o cheiro.
Aquelas tangerinas metia-se o polegar e abriam-se de uma só vez.
Depois era a doçura.
Hoje procuram-se tangerinas e raramente as encontramos.
Aparece-nos uma coisa a que chamam clementinas…
Sobre tangerinas poderia ficar a falar infindamente.
De uma maneira mais simples fiquemos com o Eugénio d’Andrade e um seu poema sobre o fascínio das tangerinas:
Pêssegos, peras, laranjas,
morangos, cerejas, figos,
maçãs, melão, melancia,
ó música dos meus sentidos,
pura delícia da língua;
deixai-me agora falar
do fruto que me fascina,
pelo sabor, pela cor, pelo aroma das sílabas:
tangerina, tangerina.
Sem comentários:
Enviar um comentário