Estico as pernas e observo o Zak a realizar
as suas tarefas matinais. Ele não podia adivinhar que em tempos eu tinha tido o
sonho de ter um café. Suponho que terá começado quando li sobre a vida boémia
da geração Beat, os surrealistas e os poetas simbolistas franceses. Não havia
cafés no sítio onde eu cresci mas existiam nos meus livros e povoavam os meus
devaneios. Em 1965 eu tinha vindo de South Jersey para a cidade de Nova Iorque
apenas para passear e dar umas voltas e nada me parecia mais romântico do que
estar calmamente sentada n escrever poesia num café de Greenwich Village.
Acabei por arranjar coragem para entrar no Caffè Dante, na Rua MacDogal. Como
não tinha dinheiro para uma refeição, bebi apenas um café, mas ninguém pareceu
ligar a isso. As paredes estavam cobertas com murais pintados da cidade de
Florença e com cenas de A Divina Comédia. Ainda hoje existem, descoloridas por
décadas de fumo dos cigarros.
Patti Smith
em M Train
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