terça-feira, 26 de abril de 2022

NOBODY EATS AT LINEBOUGH'S ANYMORE


They're gonna tear down the Grand Ole Opry
They're gonna tear down the sound that goes around our song
They're gonna tear down the Grand Ole opry
Another good thing, is done gone on, done gone on

Well there were campers
And there were busses
Parked all around, where there used to be a door
But that place
Called the Grand Ole Opry
It just ain't there
Just ain't there no more

They're gonna tear down the Grand Ole Opry
…………………………………………………………………….

Right across from the wax museum they used to line up
Around the block
From east Tennessee and back down home again
All of a sudden there's nothing to do where there once
Was an awful lot
Broad Street will never be the same

I've been in love with the Grand Ole Opry
And I guess I have now for a good many years
When I hear the Grand Ole Opry
It makes me sad that it's gonna disappear, gonna disappear

They're gonna tear down the Grand Ole Opry

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(John Hartford, “Tear Down the Grand Ole Opry, 1971) 

“Where can you go to see the country music’s stars?

That’s what we come to Nashville for

No one comes around to play the pinball machines

Nobody eats at Linebaugh’s anymore

Now the Opry’s gone and the streets are bare

Ernest Tubb’s Record Shop is dark

And the drunks are gone from the Merchant’s Hotel

Everybody’s gone to the park

Where can you go to see the country music’s stars

Sittin’, drinkin’ coffee ‘till four

Shoney’s closed at nine o’clock; there’s nothing left to do 

Nobody eats at Linebaugh’s anymore

Now the Opry’s gone…………………………………….

Somewhere in the suburbs the Opry plays tonight

But the people come around to take the rides

The park shuts up at bedtime, there’s nowhere else to go

Nobody eats at Linebaugh’s anymore 

Now the Opry’s gone ,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,

(John Hartford, “Nobody Eats at Linebaugh’s Anymore”, 1972) 

Como já aqui vos contei, quando foi anunciado que o Grand Ole Opry iria abandonar as instalações do Ryman Auditorium e mudar-se para os subúrbios, as reações não se fizeram esperar, sobretudo por parte dos fãs mais antigos e por uma boa parte da comunidade musical de Nashville. Mas não houve unanimidade nessa critica e um homem como Roy Acuff, decano do Opry, até  foi uma das primeiras vozes a defender essa mudança, argumentando que não só o Ryman já não disponha de condições logísticas adequadas a tanta gente, como também o “downtown” de Nashville, com as “suas hordas de bêbados e de drogados”, se havia transformado num local muito pouco frequentável para as respeitáveis famílias americanas que propositadamente se dirigiam à cidade para assistir aos espetáculos musicais.

 


Quanto aos contestatários, nem todos tiveram coragem para transformar a sua tristeza em canções porque, é claro, continuariam a necessitar do Grand Ole Opry para o prosseguimento das suas carreiras, estivesse ele onde estivesse.

Quem não tinha necessidade nenhuma disso era John Hartford, um nome que poucos conhecem, mas, indiretamente, quase todos conhecem por ter sido o autor de “Gentle on My Mind”, um dos grandes sucessos musicais dos anos sessenta. Desconheço a contabilidade aos dias de hoje, mas no final do século passado atingia já os 500 o número de interpretes diferentes que tinham gravado as suas versões de “Gentle on my Mind”, sendo que a mais conhecida e lucrativa delas todas foi a que Glen Campbell lançou em 1967.  

 


Desta forma, aos 30 anos já tinha John Hartford garantido a sua independência financeira só à custa dos “royalties” dessa música, pelo que, a partir daí, poderia fazer o que lhe desse na real gana. E o que ele mais gostava de fazer era tocar violino, banjo e bandolim, e cantar músicas alusivas ao Mississippi, fossem elas originais por si compostos ou velhas canções tradicionais. E Hartford gostava tanto da vida no Mississippi que obteve licença de condução de “steamboats” e todos os anos reservava algum tempo para se divertir, dedicando-se a essa atividade. Morreria muito cedo, de cancro, aos 63 anos.

 


Foi este descomprometido John Hartford, amante do Grand Ole Opry e nostálgico dos velhos tempos, quem compôs logo em 1971, mal a saída do Ryman foi anunciada, uma canção de alerta e de lamento por esse facto. Está longe de ser uma canção brilhante, mas tem um inquestionável interesse histórico…

E reincidiu logo no ano seguinte, com um canção bem melhor, premonitória de como seria o “downtown” de Nashville quando o Opry o abandonasse. Digo premonitória porque a canção é de 1972 e o Grand Ole Opry só viria a deixar o Ryman em 1974.

 


Nessa canção, cujo título roubei para este texto, Hartford evoca o provável desaparecimento de uma série de lugares míticos de Nashville da época áurea do Ryman , nomeadamente o “Linebaugh’s”, o “Merchant Hotel”, o “Shoney’s” e a “Ernest Tubb Record Shop”. 

O “Linebaugh’s” era um dos restaurantes onde se juntavam os artistas depois dos espetáculos, numa altura em que havia alguma proximidade entre eles e o seu público. Se alguém quisesse encontrar Patsy Cline ou Jimmy Reeves depois de uma atuação, já sabia que era no “Linebaugh’s” que eles estavam. A proximidade era tão grande que, por vezes, no Grand Ole Opry se sorteavam de entre o público alguns participantes para irem tomar o pequeno-almoço com os artistas no dia seguinte ou, melhor dizendo, com aqueles que a essa hora da manhã ainda se aguentassem em pé…! Uma das características do “Linebaugh’s” era a de ter umas “pinball machines” perto das janelas, facto a que Hartford não deixa de fazer alusão. 

 


 O “Linebaugh’s”, entretanto, desapareceu e quando por lá passei havia outro com o mesmo nome, mas bastante mais longe do centro, o mesmo sucedendo com o outro restaurante mencionado na canção, o “Shoney’s”, que, após a morte do seu proprietário, deixou a Broadway de Nashville e se instalou em vários locais como “franchise”. 

Quanto ao “Merchants”, era um velho hotel centenário localizado a poucos quarteirões do Ryman, que nos seus primórdios terá albergado verdadeiras lendas do Oeste americano como Wild Bill Hickok, Jesse Janmes e os irmãos Younger. Nos tempos áureos do Grand Ole Opry, era o lugar onde ficavam instalados muitos dos artistas que lá atuavam e Hank Williams, Johnny Cash, Roy Acuff ou Dolly Parton contam-se entre aqueles que por lá dormitaram. Encerrou como hotel no início dos anos 80, quando o “downtown” de Nashville terá entrado em declínio e viria a reabrir no final dessa década, apenas como restaurante.  Foi assim que o encontrei e nele me sentei para jantar. 

 


Finalmente, o “park” para onde todos se parecem dirigir deixando as ruas vazias, o tal que fecha cedinho à hora do ó-ó,  é o “Opryland USA”, um enorme parque temático musical autodesignado “Home of the American Music” localizado nas imediações da “Opry House”, as novas instalações do “Grand Ole Opry” desde 1974.

Quando à “Ernest Tubb Record Shop”, é uma loja de discos histórica, verdadeira lenda viva   da “Country Music” de outros tempos, que ainda por lá anda desde 1947 e que irá merecer da minha parte um tratamento especial numa próxima oportunidade.  

Não faço a mínima ideia se John Hartford teve, ou não, razão na sua premonição, mas sei de fonte segura que nos finais dos anos 70/inícios de 80 toda aquela zona da Broadway de Nashville terá entrado em declínio, transformada que foi em albergue de lojas porno, “peep shows”, teatros e bares para adultos e grandes espaços de bilhar com os seus malandros típicos, como nos lembramos de ter visto em tantos filmes americanos de outros tempos.

Da Nashville dos anos 70 não conheço nada, a não ser o que vi no filme do Robert Altman. E sim, lembro-me que por lá havia gente marada, nomeadamente aquele atirador furtivo que numa das últimas cenas do filme acaba por matar a desgraçadinha cantora vestida de branco, mal ela tinha acabado de interpretar, com tanta alma e coração (“for Mama and Daddy”!...), o “My Idaho Home”… 


Eu não sou diferente das outras pessoas e, como se diz na canção do John Hartford, se fui para a Broadway de Nashville foi para ouvir “Country Music”, com um copo gigante de cerveja numa mão e amendoins e batatas fritas na outra. Mas a “Country” do antigamente, e quanto mais foleira, melhor… Não me preocupei muito a estudar os possíveis locais porque, com tanta oferta, nunca pensei que isso fosse um grande problema.

Fiz mal…

É verdade que os bares de música são às largas dezenas e até encontrei um edifício de três andares com um agrupamento musical diferente em cada um deles, a tocarem ao mesmo tempo. Mas todos eles tinham uma característica comum: uma música absolutamente intragável, que não consigo definir. Aquilo não é “Country”, não é “Rock”, não é “Pop”, não é nada a não ser barulho, muito barulho…

 


Que saudades das músicas de Kenny Rogers, Garth Brooks, Randy Travis ou Willie Nelson, para só falar dos “foleiros” mais recentes de que me lembro… 

O que eu não teria dado para ouvir alguém cantar as pobres músiquinhas do “Nashville”:  “My Idaho Home”, “One, I Love You”, “Keep A-Goin’”, fosse lá o que fosse… O que viesse à rede seria peixe.

Mas nada que se aproximasse… Uma verdadeira desilusão!  A maior de toda a viagem, em termos musicais.

Cá fora estavam “caleches” iluminadas, prontas a proporcionarem inolvidáveis e excitantes  passeios à beira rio a casais à procura de aventuras românticas .

Por todo o lado andavam umas traquitanas a que eles chamam “Pedal Tavern”, que mais não são do que uma enorme bicicleta coletiva, uma mesa com rodas com pessoas à volta, que vão pedalando enquanto comem, bebem e berram o mais que podem…

 


Na noite de Nashville só se salvaram os “néons”, como vos darei a ver noutra ocasião. 

A Broadway de Nashville que eu vi, com todas as suas lojas, bares e restaurantes para todos os gostos, não é mais que uma enorme Feira Popular ao ar livre, rigorosamente vigiada por polícias montados em cavalos e em Harleys Davidson. Talvez tenha um pouco mais de gente e de barulho, mas não se afasta em muito da desilusão traçada por John Hartford cinquenta anos antes. 

Mas numa coisa ele se terá enganado profundamente. Nos dias de hoje, “Ernest Tubb Record Shop” está tudo menos “dark”, como vos contarei proximamente…

Texto e Fotografias de Luís Miguel Mira

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