segunda-feira, 4 de abril de 2022

OLHAR AS CAPAS


Miniaturas

Norberto de Araújo

Livraria Aillaud e Bertrand, Porto, Abril de 1920

Navios parados...Mastros esguios, como lanças, despidos da roupagem das velas, pontos de admiração fantásticos, abrindo a sua surpresa ante miséria, ante a ambição, ante a luta vigente por essa terra fumegante, que crepita incêndios e dor...Navios parados, na tranquilidade calma da baía: o espelho das águas retrata-vos na trémula miragem, toda a ânsia de fuga, toda a sede indomável da solidão, a saudade do oceano, o amor das águas infinitas, en cuja superfície santíssimo Deus, se balouçam os vossos arcabouços, navios que eu estou a ver parados e tristes, e os arcabouços dos tripulantes, felizes na incerteza, amantes das ilusões no horizonte, apaixonados da dúvida cinzenta das tempestades. Navios, mastros nus, destinos ao abandono. Vós tereis amanhã - oh quem vos seguira! - o firmamento enorme para realizardes o vosso sonho, lendo nas estrelas, ou o seio do Oceano inteiro para vos aquietardes, abençoando a morte...

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