Pier Paolo Pasolini
nasceu a 5 de Março de 1922.
Para celebrar o centenário
do seu nascimento, vão ser exibidos 5 longas-metragens e 1 documentário,
devidamente restaurados.
O ciclo começa, em Lisboa, a 7 de Abril com exibições dos filmes no Cinema Ideal e na UCI Cinemas El Corte Inglês.
Os filmes e as datas podem ler-se no cartaz acima reproduzido.
Entre mais alguns,
não será exibido A Terra Vista da Lua que era um dos filmes de Pasolini de que
Manuel António Pina muito gostava, ao ponto de nas crónicas que escreveu para a
Notícias Magazine lhes chamar A Terra Vista da Lua.
REQUIEM PARA PIER PAOLO PASOLINI
Eu pouco sei de ti mas este crime
torna a morte ainda mais insuportável.
Era novembro, devia fazer frio, mas tu
já nem o ar sentias, o próprio sexo
que sempre fora fonte agora apunhalado.
Um poeta, mesmo solar como tu, na terra
é pouca coisa: uma navalha, o rumor
de abril podem matá-lo – amanhece,
os primeiros autocarros já passaram,
as fábricas abrem os portões, os jornais
anunciam greves, repressão, dois mortos na primeira
página, o sangue apodrece o brilhará
ao sol, se o sol vier, no meio das ervas.
O assassino, esse seguirá dia após dia
a insultar o amargo coração da vida;
no tribunal insinuará que respondera apenas
a uma agressão (moral) com outra agressão,
como se alguém ignorasse, excepto claro
os meretíssimos juízes, que as putas desta espécie
confundem moral com o próprio cu.
O roubo chega e sobra excelentíssimos senhores
como móbil de um crime que os fascistas,
e não só os de Salò, não se importariam de assinar.
Seja qual for a razão, e muitas há,
que o Capital a Igreja e a Polícia
de mãos dadas estão sempre prontos a justificar,
Pier Paolo Pasolini está morto.
A farsa, a nojenta farsa, essa continua.
Eugénio de Andrade em Escrita
da Terra e Outros Epitáfios
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