sexta-feira, 1 de abril de 2022

O QU'É QUE VAI NO PIOLHO


Pier Paolo Pasolini nasceu a 5 de Março de 1922.

Para celebrar o centenário do seu nascimento, vão ser exibidos 5 longas-metragens e 1 documentário, devidamente restaurados.

O ciclo começa, em Lisboa,  a 7 de Abril com exibições dos filmes no Cinema Ideal e na UCI Cinemas El Corte Inglês.

Os filmes e as datas podem ler-se no cartaz acima reproduzido.

Entre mais alguns, não será exibido A Terra Vista da Lua que era um dos filmes de Pasolini de que Manuel António Pina muito gostava, ao ponto de nas crónicas que escreveu para a Notícias Magazine lhes chamar A Terra Vista da Lua.

 Recorda-se aqui o poema que Eugénio de Andrade escreveu na morte de Pasolini:

 

REQUIEM PARA PIER PAOLO PASOLINI

 

 Eu pouco sei de ti mas este crime

torna a morte ainda mais insuportável.

Era novembro, devia fazer frio, mas tu

já nem o ar sentias, o próprio sexo

que sempre fora fonte agora apunhalado.

Um poeta, mesmo solar como tu, na terra

é pouca coisa: uma navalha, o rumor

de abril podem matá-lo – amanhece,

os primeiros autocarros já passaram,

as fábricas abrem os portões, os jornais

anunciam greves, repressão, dois mortos na primeira

página, o sangue apodrece o brilhará

ao sol, se o sol vier, no meio das ervas.

O assassino, esse seguirá dia após dia

a insultar o amargo coração da vida;

no tribunal insinuará que respondera apenas

a uma agressão (moral) com outra agressão,

como se alguém ignorasse, excepto claro

os meretíssimos juízes, que as putas desta espécie

confundem moral com o próprio cu.

O roubo chega e sobra excelentíssimos senhores

como móbil de um crime que os fascistas,

e não só os de Salò, não se importariam de assinar.

Seja qual for a razão, e muitas há,

que o Capital a Igreja e a Polícia

de mãos dadas estão sempre prontos a justificar,

Pier Paolo Pasolini está morto.

A farsa, a nojenta farsa, essa continua.

 

Eugénio de Andrade em Escrita da Terra e Outros Epitáfios

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