Saramago: Os Seus Nomes
Um álbum biográfico
Edição de Alejandro
Garcia Schnetzer e Ricardo Viel
Prefácio: António
Guterres
Capa e projeto
gráfico: Raul Loureiro
Porto Editora/
Fundação José Saramago, Lisboa, Abril de 2022
Não o pensava antes,
quando escutava a guitarra de Carlos Paredes, mas hoje, recordando-a,
compreendo que aquela música era feita de alvoradas, canto de pássaros
anunciando o sol. Ainda tivemos de esperar uma década antes que outra madrugada
viesse abrir-se para a liberdade, mas o inesquecível tema de Verdes
Anos, esse cantar de extática alegria que ao mesmo tempo se entretece em
harpejos de uma surda e irreprimível melancolia, tornou-se para nós numa
espécie de oração laica, um toque a reunir de esperanças e vontades. Já seria
muito, mas ainda não era tudo. O resto que ainda faltava conhecer era o homem
de dedos geniais, o homem que nos mostrava como podia ser belo e robusto o som
de uma guitarra, e que era, a par de músico e intérprete excepcional, um
exemplo extraordinário de simplicidade e grandeza de carácter. A Carlos Paredes
não era preciso pedir que nos franqueasse as portas do seu coração. Estavam
sempre abertas.
Palavras de José Saramago em O Caderno, colocadas pelos autores neste Álbum Biográfico no capítulo «Leituras/Sentidos»
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