segunda-feira, 25 de abril de 2022

OLHARES


O filme deste dia de há 48 anos, passa-lhe pela memória.

Alguns pormenores estão esquecidos.

Outros não.

Começara a chover, as ruas iam-se esvaziando, as gentes que correram, gritaram e caminharam por aqui e por ali regressavam a casa para ver o que a televisão apreto ebranco tinha para dizer.

Marcelo já se rendera a Spínola. O poder não caíra na rua como pretendera o ditador.

Foi quando encontrou o Pedro Foyos, naquele tempo o paginador gráfico do República, que o desafiou para uma volta pela cidade.

Subimos a Avenida da Liberdade, demos a volta para o Conde Redondo. Continuava a chover e o Pedro Foyos desafiou-o para um petisco e um copo de um qualquer vinhito. Apenas encontrámos na Luciano Cordeiro o Café Camacha aberto, mas prestes a fechar portas.

 Ao balcão bebemos um penalty de vinho branco e comemos um pastel de bacalhau.  Era o que nos podiam dar. Brindámos ao que aí viria.

De modo algum poderia ser pior do que os tempos que íamos vivendo.

Tenho uma ternura por esta lembrança de tempo ddeste  dia de há 48 anos.

Pequenos e simples momentos. Talvez os melhores.

Nunca o desfiei por aqui, nem em nenhum lado.

Envelhecer é isto.

Legenda: pintura de Douglas Gray

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