O Magazine Cultural
do El Corte Inglês reapareceu.
A interrupção deu-se
por motivos vários, a pandemia covideana à cabeça, e no findar do passado ano a
morte de um seus grandes colaboradores, João Paulo Cotrim, levou a que este
número de regresso seja uma homenagem à sua pessoa e à sua arte.
«O mais limpo dos céus
contém a promessa de nivens. Mas a névoa não tem que significar mau tempo.
Sigamos o sopro e os ventos.»
João Paulo Cotrim
O professor de Física
Carlos Fiolhais escreveu um Bilhete:
«Que ideia é essa,
pá, de te teres ido embora? Tu não percebes que nos fazes cá falta? Fazem-nos
falta os teus livros, as tuas revistas, as tuas exposições, as tuas
iniciativas. As tuas ideias… Tu sabias como poucos que ciência e arte só podem
como devem estar juntas. Agora só nos resta a inspiração que nos deixaste. Ela
é que nos pode valer para fazermos que as plantas que deixaste semeadas cresçam
e todos nos possamos regalar com boa sombra e belos frutos.»
André Carrilho desenhou a capa e a redacção foi buscar um dos poemas de Natal do Vinicius de Moraes:
Para isso fomos feitos:
Para lembrar e ser lembrados
Para chorar e fazer chorar
Para enterrar os nossos mortos —
Por isso temos braços longos para os adeuses
Mãos para colher o que foi dado
Dedos para cavar a terra.
Assim será nossa vida:
Uma tarde sempre a esquecer
Uma estrela a se apagar na treva
Um caminho entre dois túmulos —
Por isso precisamos velar
Falar baixo, pisar leve, ver
A noite dormir em silêncio.
Não há muito o que dizer:
Uma canção sobre um berço
Um verso, talvez de amor
Uma prece por quem se vai —
Mas que essa hora não esqueça
E por ela os nossos corações
Se deixem, graves e simples.
Pois para isso fomos feitos:
Para a esperança no milagre
Para a participação da poesia
Para ver a face da morte —
De repente nunca mais esperaremos...
Hoje a noite é jovem; da morte, apenas
Nascemos, imensamente.
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