sábado, 16 de abril de 2022

A RETÓRICA E A MENTIRA

Livro de recitações é uma pequena secção da crónica semanal de António Guerreiro no Ipsilon. A de ontem chamava-se A retórica e a mentira não produzem riqueza.

O personagem visado era o filho do Senhor Teodoro da Bomba de Gasolina que deu uma enorme sarilhada no Café do Bairro. A única coisa que sei é que so sarilho não resultaram nem cabeças, nem cadeiras partidas.

«É sabido que há vastos sectores onde a retórica tem má fama; e que a retórica da desqualificação da retórica é um exercício que os retores praticam de maneira imoderada, alguns por cálculo, outros por uma ingenuidade atávica e até cómica. Aníbal Cavaco Silva pertence a esta segunda categoria. Se foi um bom ou mau primeiro-ministro e presidente da República pouco importa para o caso; e até seria visto retrospectivamente com muito mais indulgência pelos cidadãos se ele não tivesse tanta por si próprio. A retórica — que na sua concepção é equivalente à mentira — é um uso da linguagem que cria comunidade. É verdade que nem toda a retórica se equivale, há boa e má retórica, e nem toda está à altura da nobre política. Mas o que seria uma política que nos expropriasse completamente dos efeitos retóricos da linguagem, que não tivesse a linguagem como medium, mas apenas o dinheiro, isto é, a riqueza? Se tal coisa existisse (nem sequer a economia pode reclamar essa condição) seria um horror.»

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