sábado, 16 de abril de 2022

O CANTO E AS ARMAS


ORFEU - STAT 003 - 1969

FACE 1

E De Súbito Um Sino (poema dito por Ruy Mendes) - Raiz (Manuel Alegre/Adriano Correia de Oliveira) - E A Carne Se Fez Verbo (Manuel Alegre/Adriano Correia de Oliveira) - E O Bosque Se Fez Barco (Manuel Alegre/Adriano Correia de Oliveira) - Peregrinação (Adriano Correia de Oliveira) - A Batalha de Alcácer-Quibir (Manuel Alegre/Adriano Correia de Oliveira) - Regresso (Manuel Oliveira/Adriano Correia de Oliveira)

FACE 2

Canção da Fronteira (António Cabral/Adriano Correia de Oliveira) - Por Aquele Caminho (José Afonso/Adriano Correia de Oliveira) - Canto Da Nossa Tristeza (Manuel Alegre/Luís Colaço) - Trova Do Vento Que Passa Nº 2 (Manuel Alegre/Adriano Correia de Oliveira) - As Mãos (Manuel Alegre/Adriano Correia de Oliveira) - Post-Scriptum (Manuel Alegre/Adriano Correia de Oliveira)

Eis como tudo
entra de súbito
pelas palavras
a terra e o mar
as mãos e as vozes.
Tua guitarra
povo. Teu génio.
E o teu silêncio
é de súbito um sino
tocado pelo vento
em todas as aldeias do meu sangue.

 A capa e contracapa do disco, da autoria de J. Bugalho, é uma fotografia que regista a assembleia magna em Coimbra que decidiu a greve aos exames.

 O disco é composto por poemas que constam de O Canto e as Armas e Praça da Canção e abre com E de Súbito um Sino, poema dito pelo actor Rui Mendes.

A gravação teve o precioso cuidado técnico de Moreno Pinto.

Em Outubro de 1969, para acabar com a contestação que marcava os dias na Universidade de Coimbra, a ditadura pegou em 49 estudantes contestatários e espetou com eles na Escola Prática de Infantaria, em Mafra, para cumprimento de serviço militar e enviá-los para a guerra,

Coimbra, 17 de Abril de 1969, inauguração do edifício de Matemáticas, o estudante Alberto Martins, no meio da bancada do auditório, onde decorria a cerimónia, levanta-se e interpela a mesa.

 - Em representação dos estudantes da Universidade, peço licença a sua excelência para falar nesta sessão.

 O então presidente Américo Tomás, apanhado de surpresa, diz:

 - Bem, mas agora fala o senhor ministro das Obras Públicas.

 Nos estudantes recrutas enviados para Mafra, encontrava-se Rui Pato, estudante de medicina, que numa manhã apareceu em Lisboa, nos estúdios da Polysom, em Campolide, para a gravação do álbum O Canto e as Armas de Adriano Correia de Oliveira.

 Tal como conta Rui Pato:

Um LP que foi combinado pelo telefone em Março de 1970, entre o Adriano e eu. Ele, oficial da Polícia Militar no Regimento de Lanceiros 2 em Lisboa; eu ,castigado devido à crise académica de 1969, oficial de Cavalaria na Escola Prática de Cavalaria em Santarém. Eu não fazia ideia do que é que o Adriano queria gravar…só sabia que eram poemas do Manuel Alegre. E as melodias? “Isso vê-se lá”, respondeu o Adriano. Combinámos uma data, tinha que ser num dia em que ele estivesse a fazer a ronda no jeep da PM. Eu pedi ao Salgueiro Maia que me autorizasse o “desenfianço” para aquele dia e…no dia aprazado lá fui até Lisboa aos estúdios onde o técnico Moreno Pinto nos esperava. Cheguei primeiro. Depois chegou um jeep da PM e sai de lá o Adriano, fardado, cheio de correias, de capacete e pistola!
Pousou toda aquela tralha por cima do piano…e a pistola lá estava…num coldre branco! Eram AS ARMAS. O CANTO… veio depois. Fomos desfolhando poemas do livro do Alegre, ele improvisava uma melodia, eu um arranjo e acompanhamento e…como nas contas de um rosário assim se gravou uma a uma as cantigas deste disco…até às oito da manhã que foi quando a “ronda” do Adriano terminou e o jeep o veio buscar.
Assim, em cerca de 15 horas, foi feito, de improviso, o LP O CANTO E AS ARMAS.

O disco contém poemas dos livros O Canto e as Armas e Praça da Canção

Acompanhamento à viola de Rui Pato.



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