Petite Fleur é uma lindíssima e
apaixonada música.
Aquele clarinete de Sidney Bechet é para
nos acompanhar por uma vida.
Eu já me tinha esquecido, mas o Luís
Miguel Mira fez o favor de refrescar o que metade do meu cérebro já mantinha
quase desaparecido.
Havia na casa do meu pai um EP da Vogue
de Petite Fleur, gravado ao vivo.
Toda a capa era Bechet e o seu clarinete, num concerto em Paris, talvez de Março de 1952. Quando se colocava a agulha
do pick-up, que ao lado do rádio Blaupunkt convivia no móvel desenhado e feito
pelo meu pai, na faixa certa, ouvia-se Bechet dizer: «et maintenant Petite Fleur» e aquele clarinete envolvia toda a
casa.
Naqueles tempos comprar discos não era
coisa fácil. Havia a Valentim de Carvalho, mais tarde a Melodia, a Universal, a
Discoteca do Carmo e espalhadas pela cidade uma série de casas de
elctrodomésticos que vendiam discos.
Alguém terá dito ao meu pai para comprar
o disco, como mais tarde lhe disseram para comprar o Volare no azul pintado de
azul do Dean Martin, Domenico Modugno só o comprou muito depois.
Como referência musical, o meu pai só na
música clássica tinha os seus favoritos e alinhamentos. O jazz apenas pela casa
entrou com o Louis Armstrong, um/dois discos, o Paul Robeson e esse EP do
Sidney Bechet.
Esse EP, como tantos outros discos não entrou
na Biblioteca da Casa.
Durante anos e anos procurei-o pela
Feira da Ladra e nunca o encontrei. Tão pouco o consigo encontrar na internet.
O disco mais velho de Petite Fleur que se encontrou é o que ilustra o texto doMiguel.
Há dezenas de versões cantadas de Petite Fleur.
Se o meu por aqui andasse, diria que Petite Fleur não é para ser cantada,
única e exclusivamente tocada, e apenas pelo clarinete de Sydney Bechet.
Danielle Darrieux que nos deixou, em 2017, com 100 anos e alguns meses, talvez o encontre ao balcão de um qualquer bar a whiskar, e lhe diga qualquer coisa, por exemplo, que já tem idade de se deixar de teimosias.
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