quarta-feira, 27 de março de 2019

CONSERVADO EM ALCOOL


 Chegamos ao fim da revisitação das entrevistas do Luiz Pacheco antologiadas em O Crocodilo Que Voa.

Estas são as duas últimas perguntas que Ricardo Nabais e Vladimiro Nunes fizeram a Pacheco na entrevista que foi publicada pelo semanário Sol em Janeiro de 2008.

A quem acha graça hoje em dia?

Agora acho muito pouca graça. E aqui então não se pode. Já mandei uma gaja aí à merda. Porque isto é um ambiente deprimente. Sexualmente isto é um desgosto. Mas aqui há namoros! É claro que vocês estão cá meia hora e depois arejam. Mas para a pessoa que cá fica… o que vale é que estou isolado... Também é muito cedo para dizer que estou mal. Ainda estou a experimentar. Em oito dias, só hoje é que fui conhecer o andar de cima. Ainda me desnorteia, não sei onde é o elevador. De resto, isto parece-me muito bom. É melhor do que eu supunha. Mas é difícil achar graça a alguma coisa com esta idade. Tenho 82 anos, porra! Há aquela coisa que é a PDI, a Puta Da Idade, o caruncho...E o velho, geralmente, é egoísta. Ou é mais egoísta do que o novo. Mas estou a falar de coisas muito tristes…

Convenhamos que, ao longo da vida, o Luiz Pacheco também não se tratou muito bem.

Não, tratei-me! Fui conservado em álcool. A questão é que não havia dinheiro para grandes rambóias. Não estou taralhoco de todo. Estou é um bocadinho desmemoriado e tomo muitos medicamentos.

1 comentário:

Seve disse...

Que pena haver tão poucos exemplares como o Pacheco.